Foi dia de apanhar a azeitona
da “quinta”, que é enorme para os cuidados que lhe dou, quando dou - quer dizer,
dou, claro, mas pago a quem o faça por mim…
Vieram os dois compadres e
ajudantes, a faina ia de “vento em popa”, e a seguir ao
“mata bicho”, saí para cumprimentar o “ti” Abílio, o seu compadre,
mais conhecido por Vedor, e os restantes
jovens trabalhadores. Pelas minhas contas, as oliveiras não davam grande maquia,
mas os compadres, em coro, disseram que ainda tinham qualquer coisinha e que
valia a pena o esforço de estender as maranhas, varejar as árvores, ensacar os
frutos e, para não deixar para depois, limpar as oliveiras – para o ano é que vão
carregar, diz o compadre Vedor. Se ele o diz, acredito…
De regresso a casa, com um clique leio o “Público”
e passo os olhos pelas primeiras páginas dos outros jornais, como sempre faço todas as manhãs...
Quando olhei para o relógio,
era quase meio-dia, horas de preparar o almoço - qual almoço? Não tinha nada à
mão, e descongelar o que quer que fosse dava para tarde…
Solução: uma omelete de fiambre,
pronto, “já está”!
Cuidadoso com a frigideira,
mais uma voltinha à omelete, e outra, e outra - ei-la no prato, direitinha,
fofa, à espera da salada… e dos meus dentes!
Entretanto, tocam à campainha…
Abri a porta - era a esposa do “ti”
Abílio com um saco de dióspiros, dos de roer, os meus preferidos. Obrigadinho,
disse eu, depois de lhe perguntar como ia de saúde, vou indo, sr Carlos, vou
indo. Como sei que gosta, trago-lhe aqui meia dúzia de dióspiros, à tarde trago
mais. Oh, não se incomode, mas agradeço. Os do ano passado eram bem bons,
acrescentei - e eram! Não leve a mal, mas estou a tratar do almoço, os gatos
ainda me vão à omelete…Vá, vá, precisa de ajuda? Não, obrigado, já está pronta - então, até logo…
- Abri a porta da cozinha ainda
a tempo de ver os dois “terroristas” banquetearem-se com o meu almoço…