Acordar no silêncio da noite com um terramato sonoro dentro de casa é uma travessura de meter medo - e se for no dia das bruxas, não há cabelo que assente na careca de quem a tem.
Sempre ouvi dizer que as bruxas existem, sim senhor; ao "vivo" nunca vi nenhuma, Isto é: já fui enfeitiçado por bruxinhas simpáticas, outras lindas de morrer (há feitiços assim, que "matam" os incautos...), mas bruxas a "sério", cavalgando vassouras de piaçaba, dessas nunca vi, nunca - juro!
Ora, na noite anterior, vésperas da "Feira dos Santos" aqui no meu sítio, por volta das duas, cá em casa, caiu o "teto do mundo" com o som contínuo de uma campainha, bem mais grave e barulhento que o despertador do rádio que tenho na cozinha - pensei eu. Nada disso: o rádio mantinha o silêncio, pelo sim, pelo não, desliguei-o da corrente, mas o horror daquele som irritante, doido, doido, continuava a massacrar-me o corpo inteiro e não apenas a cabeça, tremeliques, tiques tiques, meio desorientada (a cabeça...).
Ah - a campainha! Pois claro, a campainha - era a campainha, uma travessura de bruxas (ou bruxos...) que se passearam na noite no cumprimento de um ritual moderno, importado.
Abri a porta da rua e dei de caras com a arma do crime: um palito a pressionar o botão da dita cuja campainha!!!
Pudera, assim também eu - também eu era capaz de travessuras anónimas, a coberto do escuro, sem direito a ser corrido com palavrões que eu cá sei - todos sabemos! -, em bom português.
Desta vez não tive alternativa: fiquei com a travessura, que trocava de bom grado por uma mão cheia de doçuras, das que tinha para dar aos bruxinhos da escolinha do Caracol ao Sol.
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