sábado, 19 de março de 2016

“Mondego”, o cão

O “Mondego” era o enlevo da família de acolhimento, graças à sua permanente disponibilidade para as brincadeiras  dos meninos da casa.
Um dia, quando nada o previa, o dono levou-o a um passeio, serra acima; enquanto se entretinha com os cheiros daquele mundo estranho, levou longe demais a correria a ponto de se perder atrás de uma moita...
Depois de ter erguido as orelhas e aguçado o olhar em busca do dono, concluiu que tinha sido abandonado à sorte do destino incerto.
Devagar, cansado, foi até à berma da estrada que nunca tinha visto e por lá ficou, indeciso: 
- Atravesso para o outro lado, ou volto para trás?
Todo ele tremia - o instinto dizia-lhe para ser cuidadoso.
De repente, um dos muitos automóveis, em marcha lenta, acendeu uma luzinha, como se lhe piscasse o olho, e parou mesmo ao seu lado. 
Resoluto, o Paulo Marques - conheceu-lhe o nome mais tarde – pegou no “Mondego”, com jeito e palavras mansas, e colocou-o no banco de trás. 
A viagem foi longa. “Conversaram”, ele com latidos e abanadelas de rabo que, tinha a certeza, o seu protetor entendia, e este a querer saber coisas: de onde vinha e para onde ia - coisas que, para um cão como ele, agora em segurança, eram desnecessárias…
O Paulo, disse-o na roda de amigos, que se “limitou a alterar a vida e o futuro do miúdo”, sem pensar nas consequências: espaço para alojar o “Mondego” e a “zanga” da mãe:
- Mais um, Paulo?
O pai, homem de outros cuidados, atenções e paciências, conformou-se com o novo hóspede do canil, e “inventou” um lugar digno e acolhedor, de modo a que o “Mondego” se sentisse em casa.
- Bem vindo – disse o Paulo.
Feita a “chamada”, responderam oitenta e três utentes, incluindo o “Mondego”!
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Adaptado de uma croniqueta  com o mesmo título, publicada em dezembro de 2007

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