terça-feira, 22 de março de 2016

Decibéis a mais


(....) Seis horas numa sala do hospital a aguardar por uma consulta, dão para imensa coisa: ler o jornal, partes de um livro, ouvir as conversas dos vizinhos, ou passear o olhar pelos rostos de quem está, como eu,… à espera. 
Aproveitei o tempo consoante o cansaço que proporciona a incómoda cadeira; se me concentrava na leitura, de quando em vez, ficava em alvoroço com uma voz de mulher que vinha do altifalante. Era timbrada, e os decibéis, acima da média para o local, preenchiam “violentamente” o espaço.
Ao meu lado, uma senhora, entrada na idade, “passava pelas brasas”. Tantas vezes se sentiu incomodada com as chamadas, do estilo “António Francisco Simões, sala cinco” (aquilo era rápido, questão de segundos!), entre tremores e um ressonar “simpático”, a dado momento deu um salto na cadeira e soltou um sonoro desabafo:
- Ai credo, porra que me assustei!
Nessa altura estava eu preso à leitura das últimas sobre o “meu” Benfica, depois de ter mergulhado numa crónica do Miguel Esteves Cardoso.
- Carlos Alberto Ramos, gabinete dois – chegou a minha vez!
Eram três da tarde.

---
Excerto da croniqueta com o título "Palavrões", publicada em junho de 2009

Sem comentários:

Enviar um comentário