segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Rosa cor de rosa



Gosto de todas as rosas, mas aprecio sobremaneira o tom vermelho escuro das que crescem no meu quintal no tempo próprio, não agora, nascem tardias, quase a medo, não vá a geada uma noite destas reduzi-las à lembrança da Primavera, o que acontecerá mais cedo ou mais tarde…
Um dia destes  surrupiei uma dessas rosas de outono com a intenção de a colocar numa jarra, como sempre faço – um luxo a que me dedico com inusitado prazer.
Dada a fragilidade das pétalas, coloquei-a com muito cuidado no banco do "pendura" e fiz-me à estrada sob chuva forte. Os pensamentos teriam pouco sentido porque concentrava toda a atenção no tráfego, apesar de pouco intenso.
Na "estrada real", próximo do "sítio do costume", disse de mim para mim: "com este tempo, não há rameira que aguente a espera de eventuais interessados na aquisição dos seus serviços"!
Puro engano. Depois de uma curva, na berma da estrada, uma figura feminina, esguia, de minissaia, acoitava-se sob um guarda-chuva. Do outro lado, estava outra, sujeita ao mesmo desconforto. Travei suavemente, o carro continuou a marcha mais devagar, e ao passar por aquela que estava estática junto à minha faixa de rodagem, cruzámos os olhares por breves segundos – "mais um que se limitou a olhar ", terá pensado  a senhora esguia vestida com uma minissaia.
Embora frágeis, as pétalas da minha rosa cor de rosa mantiveram-se harmoniosamente juntas.
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Resumo de uma croniqueta publicada em 2009

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