quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Posso ajudar?

A Mariana trabalhava na Livraria Académica e usava os cabelos compridos.
Perdi o conto às visitas que fiz à livraria, na esperança de ser ela a ouvir os meus pedidos de coisas simples: lápis, borrachas, papel cavalinho, aguarelas...
Quando não estava necessitado de nada, teimava em continuar cliente de leituras, embora curtas. Foi assim que "conheci" Mário Sá Carneiro, António Botto, Alves Redol e tantos outros autores portugueses.
A estratégia era simples: para que a Mariana viesse ter comigo, entrava na loja e ia direitinho à estante mais afastada do balcão. E ela vinha, apesar de se ter apercebido da marosca, com um sorriso maroto.
- Posso ajudar?
Poder, podia, mas a "ajuda" não tinha nada a ver com esclarecimentos sobre as obras expostas. Talvez se falasse do tempo que fazia lá fora, da música em voga ou de qualquer coisa que me fizesse ganhar coragem e eu teria saído do canto da minha timidez ... 
A Mariana foi sempre muito profissional no seu papel de balconista e nunca passou do cumprimento de circunstância e da frase sempre igual:
-Posso ajudar!
Eu, como não tinha asas para voar para outras conversas, fiquei cativo da timidez e ela nunca soube da minha "paixoneta"... adolescente.

1 comentário:

  1. Paixoneta recordada até hoje.
    O que é a vida senão uma caixinha de recordações?! Mal seria se assim não fosse, para muitos seria o vazio insuportável.
    Continuação de boa semana.

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