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quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

A visita do "menino Jesus"

 


Era o começo da noite quando abri a porta que dá para o jardim da casa.

Ao contrário do que é costume, algumas pessoas desciam a rua, conversavam entre si em “estrangeiro”, e um menino, muito menino, aproximou-se da minha caixa do correio – de tão pequeno, mal chegou à portinhola.

Disse “olá” em português bem timbrado, respondi com outro “olá” e perguntei se queria deixar algum “convite para uma festa”. O menino, enquanto levantava a aba da portinhola, pronunciou duas ou três palavras.

Eu: - é um convite para o Natal?

O menino: - mais ou menos.

Eu: - “vais ser “o “pai natal”?

O menino: - não.

Eu: -…então “és” o menino Jesus”?

O menino: - sim!

O “menino Jesus” apressou o passo e foi ao encontro dos adultos e outras crianças; voltei a casa, fui ao chaveiro, apanhei a chave e abri a caixa do correio.

...O bilhetinho do “menino Jesus” era um cumprimento gentil que me fez sorrir por “dentro e por fora”, virtuoso quanto baste para me encantar...

Dificilmente, neste Natal, receberei outra prenda mais “bonita” … à exceção do Lucas que, mais dia, menos dia “sai do quentinho” para alegrar a família. Depois… será o melhor amigo do Davi, o irmão!

terça-feira, 3 de dezembro de 2024

Há “coisas & coisas” que guardo

 

Guardo memórias que me chegaram às mãos em momentos de pura casualidade; inconscientemente arrumo-as sem grandes cuidados depois das carícias dos "olhares da alma".

Há “coisas & coisas” que guardo:

- junto e guardo selos do correio e moedas sem a preocupação de as usar como negócio, e guardo fotografias de pessoas e lugares, primeiras edições de jornais e revistas...

- guardo memórias físicas (pequenas pedras que recordam viagens a sítios encantados, uma ou outra agenda, discos de vinil, galhardetes…) e outras que “relatam” estórias vividas no meu tempo de rapaz inseguro e acanhado. Entretanto, fiz-me homem inteiro, “cresci por dentro e por fora" -  aligeirei hábitos e costumes.

Não sou de juntar à toa - em algum tempo da minha existência, (quase) tudo o que juntei e guardei, tem um “sininho que tilinta” quando lhe toco, como uma pequena coleção de nove postais com aguarelas do Alberto de Souza (1880-1961) “…notável aguarelista, ilustrador e desenhador português” (1).

- O “sininho”, quando não se revê em algumas memórias, emudece, é o feitio dele, “sininho” - no "seu entender" são coisas sem merecimento de um “tliiiiiiiiiiimmmm”.

(1) https://www.arqnet.pt/portal/biografias/sousa_alberto.html

quarta-feira, 27 de novembro de 2024

- Idade? oito ou dez anos

Numa certa ocasião alguém perguntou a Galileu Galilei:




"- Quantos anos tens?
- Oito ou dez, respondeu Galileu, em evidente contradição com a sua barba branca.
E logo explicou:
-Tenho, na verdade, os anos que me restam de vida, porque os já vividos não os tenho mais".

quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Sinais do amanho dos campos

 


Em 1975 (?), ao serviço de um semanário, com sede em Lisboa, criado por um grupo de portugueses retornados à Pátria, do qual fiz parte, eu e um fotógrafo, de nome João, encetámos uma viagem ao interior do país em busca de gente como nós, retornados, com o intuito de conhecer o seu estado de alma, como sobreviviam, colocando as páginas do jornal  à sua disposição  - espécie de “ponto de encontro” de quem  foi apartado  de familiares e amigos.

Quase meio século depois, basta a lembrança deste tópico para entristecer a imaginação do regresso a um tempo que já “esqueci”…

Durante o percurso, como chefe de equipa, com a anuência do João, decidi visitar os meus: mãe e avós, entretanto regressados ao Barril de Alva e à antiga casa de família que, convenhamos, depois de mais vinte anos com alguma ocupação e pouca manutenção, necessitava de obras urgentes. O avô Pereira, mestre carpinteiro, usou as poupanças e, aos poucos, fez dela habitação condigna e confortável.

Hoje “reencontrei-me” com o momento da visita à família - a foto é um clique do João, excelente fotógrafo, mas sem capacidade de alterar o cansaço da idade do avô e os sinais do amanho dos campos da mãe Natália, mas registou a beleza do seu rosto: um jeitinho no penteado, uma roupinha mais catita, sapatinhos de salto médio, malinha na mão e um pouco de batom nos lábios e voltava a ser a Natália, funcionária do Hospital Miguel Bombarda de Lourenço Marques!

Cá por mim, é o que se vê: o rosto “vestia” à moda da época, sem qualquer aptidão revolucionária - apenas preservei o estilo dos últimos tempos de residente na capital do distrito de Gaza, João Belo.

quinta-feira, 24 de outubro de 2024

Marco Paulo - "concerto no “Oriente Eterno”

 



Certo dia, o meu conterrâneo e amigo José Manuel Nobre veio à redação da revista Plateia, da Agência Portuguesa de Revistas, com o intuito de me sensibilizar para o “monumental” edifício que a Sociedade Filarmónica Barrilense estava a erguer na sede da freguesia.

Obra de envergadura numa terra pequena precisa de todas as ajudas…

Na época, a figura maior da música ligeira portuguesa dava pelo nome de MARCO PAULO! Um feliz reencontro com o artista trouxe a “minha” Filarmónica para a ponta da língua – de supetão pedi a sua ajuda:

- Com muito gosto, disse ele, se é para a Filarmónica... tenho de ver quando tenho  uma data livre (…).

Acertámos pormenores, e o MARCO PAULO, graciosamente, veio ao Barril de Alva para uma jornada que lhe ficou na memória (e dos barrilenses!), como fazia questão de recordar sempre que nos cruzávamos pelas festas e arraiais deste país; em Toronto, no Canadá, em 1981, através da Rádio, fez questão de falar “daquele dia em que participou num piquenique (no parque de merendas AIACO) e a Banda o surpreendeu com uma marchinha em que (também) decidiu participar…

Tive o privilégio da sua amizade e a proximidade da sua simpatia durante largos anos, que agora recordo através de uma “mão cheia” de momentos inesquecíveis.

Hoje, manhã cedo, acordei com a notícia da sua derradeira viagem para um “concerto” no “Oriente Eterno”.

Até um dia, MARCO PAULO.

 

 

 



domingo, 13 de outubro de 2024

A "viagem" para parte incerta da Maria (padeira)





A Maria viveu a dois passos de mim, da minha casa, no Barril de Alva. Habituei-me aos sorrisos e à simpatia dos seus cumprimentos:
- Olá Carlinhos, estás bom?
Gentil, a Maria, sempre foi pessoa de boa vizinhança, como o marido Zé “padeiro”, a Alda e a Olívia, filhas do casal.
Largos anos nos separam do momento que a fotografia mostra: eu, o “Manhoso” e mais dois “miúdos” com o andor da Santa Maria Madalena, padroeira do Casal Cimeiro, e a Maria "penitente"…
Tempos atrás, durante uma conversa ocasional, a propósito do passado glorioso do Barril de Alva, a Maria recordou-me João Abrantes - figura única na vida da comunidade por se dedicar ao fabrico de bonecos de papelão. Tendo sido sua colaboradora, afiançou com um sorriso a dançar no olhar que João Abrantes possuía enorme talento no uso das tintas com que realçava as feições dos seus bonecos.
- Era um artista, o João Abrantes!


A Maria de Lurdes Simões - Maria (padeira, por ser proprietária de uma padaria) – ao fim do dia de ontem, sábado, ”viajou para parte incerta”.
… Tantos anos a lidar com a minha vizinha Maria (padeira), quase porta com porta, e só hoje soube que tinha Lurdes no nome!
- Para mim será sempre Maria “padeira”, senhora por quem tenho enorme afeto.



sábado, 5 de outubro de 2024

Lauri, o estónio





Uma figura sorridente, em passo miúdo e com um cão preto pela trela, 
e cumprimenta-me na minha lingua materna:

- Bom dia.
- Bom dia, respondi,  questionando de seguida:
- Mora no Barril de Alva?
- Sim, lá para baixo - e apontou a rua.
- Qual é a sua nacionalidade?
- Sou da Estónia, chamo-me Lauri.
(Fantástico, pensei - a minha terra está a ficar cosmopolita...).
Esteticamente, a meu ver, o Lauri compunha uma personalidade distinta...
- Posso fazer.lhe uma fotografia para publicar?
- Sim.
"Bati a chapa", o Lauri gostou, e eu com um
... - obrigado e até à próxima, embarquei no Toyota a caminho de casa. Tinha o Bello à espera para o nosso passeio matinal.
-
Enquanto conduzia, um lampejo na memória recordou-me que a minha cordial amiga Graça Cardoso, se não me engano em 2016, foi de férias até à capital da Estónia - Tallinn, de onde me enviou uma "simpática" mensagem (para me fazer inveja, claro...) com estes "palavrões":
-“Hoje estou em Tallinn  e estou a adorar"…
Como reagi? - leiam a croniqueta  sobre a "emoção de ter inveja":


terça-feira, 1 de outubro de 2024

Placebo para a nostalgia



Houve uma conversa de ocasião sobre velhice com um prestador de serviços, 
gentil e assertivo como sempre.
Sobre a minha vetusta idade e o futuro 
- esse desconhecido com maus presságios, medos e inseguranças de quem se “preocupa” com o amanhã sonhando outonos… como se fossem de primavera – 
o parceiro da tarde foi redondo no truísmo, ao estilo de La Palisse:
-Você está velho – nota-se no que escreve, sempre o passado, o passado… e as pessoas estão-se marimbando para o passado (…).

Respondi de supetão, sorrindo:
- Sim, estou (quase) velho, assumo, o que me alegra, apesar de algumas aflições, próprias do grau e qualidade de qualquer ancião.
Se a memória não me falha, citei Gabriel Garcia Márquez, que escreveu sobre o avanço da idade no homem maduro:
- "...as primeiras mudanças são tão lentas que mal se notam, e continuamos a ver-nos de dentro como sempre tínhamos sido, mas os outros vêem-nos por fora...".
Pois, é isso – o (meu) “espelho é traiçoeiro”!
*
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o envelhecimento é classificado em quatro estágios:
 
-Meia-idade: 45 a 59 anos
-Idoso(a): 60 a 74 anos
-Ancião: 75 a 90 anos
-Velhice extrema a partir dos 90 anos
 
Portanto, faço parte do grupo de anciãos com direito a alguns privilégios, de acordo com PRINCÍPIOS DAS NAÇÕES UNIDAS PARA AS PESSOAS IDOSAS:
(…) 8 - Os idosos devem ser tratados de forma justa, independentemente da sua idade, género, origem racial ou étnica, deficiência ou outra condição, e ser valorizados independentemente da sua contribuição económica. (https://gddc.ministeriopublico.pt/sites/default/files/princ-pessoasidosas.pdf)
- É pedir muito?
*
“-Você está velho – nota-se no que escreve, sempre o passado, o passado(…).
De facto, quando alinhavo venturas e desventuras de “ontem”, as estórias de trazer por casa são um placebo para a nostalgia, que é um sentimento sublime – será?
… Estou mesmo a ficar velhote.



segunda-feira, 16 de setembro de 2024

Ema Pitoco de Sousa e Diogo Carvalho campeões do mundo - Lotte Cadenbach também (1952)

 


Ema Pitoco de Sousa e Diogo Carvalho conquistaram, no domingo, o título mundial de pares de dança em patinagem, nos Mundiais que decorrem na cidade italiana de Rimini, enquanto Diogo Craveiro se sagrou vice-campeão em patinagem livre” – Expresso
A notícia de hoje sobre Ema Pitoco de Sousa, Diogo Carvalho e Diogo Craveiro, trouxe à minha memória a imagem e o talento de Lotte Cadenbach,“principal responsável pelo sucesso da patinagem artística em Moçambique, tendo sido treinadora no Clube Desportivo da Malhangalene (CDM), no Sporting Clube de Lourenço Marques e mais tarde no SNEC”.
Por volta de 1964 (?) - dava eu os primeiros passos como vitrinista - quando conheci pessoalmente Lotte Cadenbach, na Casa Vilaça, em Lourenço Marques. Fazia-se entender em português sem dificuldade, e fazia da simpatia do sorriso o melhor argumento para questionar, por exemplo, a diferença da porcelana italiana Capodimente (1) com a semelhança da decoração de algumas peças portuguesas, feitas com barro …
Recordo o pormenor da conversa pelo facto de Lotte Cadenbach “ser quem era” na época, fazendo parte de um razoável grupo de personalidades “idolatradas” pelas gentes de Lourenço Marques – já o Eusébio era “craque”, o Carlos Rocha, com as suas cabeçadas, campeão de Luta Livre, o conjunto Night Stars (para mim!) o melhor grupo de Moçambique, a Natércia Barreto a “miúda” mais gira das cantorias e… por aí fora!

Ema Pitoco de Sousa e Diogo Carvalho 


Volto às lembranças:
- Lotte Cadenbach, no ringue do Malhangalene, ao ritmo da música, parecia que “voava” – às vezes “voava mesmo”, embora por breves segundos, e o público, eu incluído, não dava descanso aos aplausos!
"Campeã do mundo em patinagem artística (rodas) em 1952 em Dortmund, foi para Moçambique integrada numa tournée de demonstração da modalidade, onde conheceu Fernando Ribeiro, com casou nos anos 60 (…)”.
- Capidomente e Alcobaça também fazem parte das minhas memórias, e a culpa vai “inteirinha” para …- Lotte Cadenbach!

(1) A Fábrica de Porcelana de Capodimonte era uma fábrica de porcelana, estabelecida em NápolesItália em 1743.
-
Fontes, com a devida vénia:

https://tribuna.expresso.pt/
https://delagoabay.wordpress.com/
https://bigslam.pt/

quarta-feira, 4 de setembro de 2024

... depois logo se “vê”

 


Se um dia me “perder”, 
quem quiser saber de mim deverá ir de abalada a dois sítios: 
Urtigal e à vila de Avô 
– é de um deles que “venho”, em sentido figurado, quiçá pela pródiga imaginação do subconsciente, 
e é para um destes lugares que “regressarei”.
Urtigal e Avô exercem calmaria (sobre mim). 
Será do encantamento da paisagem? 
Ou de algo que transcende o profano?
- O que Freud pregou sobre a psicanálise talvez possa ser útil para me “entender”…

 ***
Até à medula, 
sou barrilense de “corpo inteiro”, 
pelo nascimento e com o sentimento do orgulho em alta, gerado pelo reconhecimento do amor pátrio dos meus antepassados, que procuro honrar, e disso dou fé a reboque da minha consciência, que faço questão de ter “arrumada”, 
ao contrário das coisas comezinhas de “trazer por casa”.
Com o juízo no lugar dificilmente me ausentaria para outras paragens 
– a não ser que esteja “escrito no destino”, mas isso é coisa dos deuses, que nunca me “sopraram ao ouvido” o programa dos capítulos do amanhã que vier…
Em suma: fico onde estou até que a “morte nos separe” 
... depois logo se “vê”!

quinta-feira, 22 de agosto de 2024

“Ti” Maria da Ressurreição

 

Praça Dr. Alberto Valle, Coja.


Do nada, na presença da Inês Vilela - a quem questionei sobre a sua saúde -, comecei conversa de ocasião com a “ti” Maria da Ressurreição  que, a páginas tantas, deu a entender  o fim do diálogo:

-… agora volto para Vinhó, que é onde moro.

 - E vai como, de carro?

- Não, vou a pé, vou e venho. Às vezes vou de boleia…

- Que idade tem, “ti” Maria?

- Não sei, mas veja aqui - mostra o BI, que tira de uma carterinha.

- É uma “jovem”, disse eu, sorrindo, agradado com a simpatia e desenvoltura da “ti” Maria da Ressurreição que, volta não volta, vem à vila, passeia, “faz o que tem de fazer”, e regressa a casa.

 

quarta-feira, 21 de agosto de 2024

Acácio Simões - "Cuco & Gorgulho"


Natural do Barril de Alva, Acácio Simões é um “caso à parte” na  comunidade do  concelho de Arganil.
Faz parte dos quadros da Associação Filarmónica Barrilense, e como nasceu com talento de sobra para servir a arte de Talma (1), pela mão dos atores Silvino Lopes e Fernanda Santana, passou a integrar a companhia Gorgulhos -Teatro Na Serra: “saltimbancos da cultura” que animam pequenas aleias da Serra do Açor ( 2).
O “nosso” Acácio é pessoa de bem, solidária e fraterna – outro “dom” que lhe vem do berço.
... Qualquer dia trago à estampa "estórias" do Acácio”. Por agora, esta “máscara” prova que estamos perante um ator que, possivelmente, passou ao lado de uma grande carreira, Não foi essa a “vontade do destino” – e ainda bem!

Notas

(1) Refere-se a uma personalidade de nacionalidade francesa, cujo nome completo era François Joseph Talma (1763-1826), que foi ator trágico.
 
(2) https://viagens.sapo.pt/viajar/artigos/gorgulhos-teatro-na-serra-os-saltimbancos-da-cultura-que-animam-pequenas-aldeias-da-serra-do-acor

sábado, 10 de agosto de 2024

IMAGINE : JOHN LENNON



Imagine que não exista paraíso
É fácil se você tentar
Nenhum inferno sob nós
Acima de nós apenas o céu
Imagine todas as pessoas
Vivendo o presente
Imagine que não há países
Não é difícil
Nenhum motivo para matar ou morrer
E nenhuma religião também
Imagine todas as pessoas
Vivendo a vida em paz
Você pode dizer que sou um sonhador
Mas eu não sou o único
Eu espero que algum dia você se junte a nós
E o mundo será um só
Imagine que não existam posses
Eu me pergunto se você consegue
Sem necessidade de ganância ou fome
Uma irmandade dos homens
Imagine todas as pessoas
Compartilhando o mundo inteiro
Você pode dizer que sou um sonhador
Mas eu não sou o único
Eu espero que algum dia você se junte a nós
E o mundo viverá como um só


quinta-feira, 18 de julho de 2024

Socializar



Entretenimento puro dos jovens barrilenses,
iguais a quaisquer outros no tempo da adolescência, 
com a vantagem  da partilha de ar puro,
paisagens "virgens" e do  refrescante Alva, o rio

sexta-feira, 5 de julho de 2024

Casamento do Guilherme e da Manuela


Passaram mais de cinquenta anos sobre o momento registado na fotografia que mão amiga me fez chegar na semana passada.
O casal faz parte das minhas memórias de infância no Barril de Alva, onde nascemos.
A nostalgia por vezes “dói”…
-
#calbertoramos

quinta-feira, 13 de junho de 2024

Europeu de Futebol - The Show Go On


Na hora
de perfeita ilusão, escrevo como quem viaja no tempo à velocidade do pensamento – é o que (me) sugere a imagem televisiva da suave partida da equipa portuguesa, rumo ao Campeonato Europeu de Futebol.
“Vou nas calmas”, nesta viagem, sentado no sofá, sem pressa de chegar; depois… é jogar, jogar, jogar e ganhar”! Vencer faz parte da ilusão…
The show go on
– cá e lá, na Alemanha.
Na hora
da partida, trocam-se alegres sorrisos, gestos, palavras e abraços.
- Voltem campeões!
Impossível não associar este momento a muitas dezenas de outros, quando os nossos “barquinhos de papelão” rumavam ao desconhecido por “mares nunca navegados”.
Na hora da partida,
no cais, familiares dos viajantes e outras gentes trocavam lágrimas, gestos, palavras e abraços.
- Voltem vivos!
…O resto faz parte da sublime História do país que somos.
*
- Viel Gluck, Portugal




quinta-feira, 16 de maio de 2024

"...Têm cá uma sorte!..."




Manhã de sábado, na minha amada terra, junto à ponte sobre o Alva.
Há dezenas de viaturas ligeiras estacionadas, estrada acima, autocaravanas em repouso, e mais de duas centenas de pessoas circulam entre os parques de "Lazer", "AIACO" e Área de Serviço para Autocaravanas...
Ando por ali, cumprimento e sou cumprimentado - até por pessoas que nunca vi! Um casal oferece-me arbustos floridos para plantar no Urtigal, mas exige os vasos de volta - fica prometido, assim será...
Cruzo-me com um cidadão, português como eu, trocamos os "bons dias" e os sorrisos e, à saída do cumprimento, deixa-me nas costas uma palmadinha "simpática" com meia dúzia de palavras a acompanhar:
- Ena, "casa cheia" - têm cá uma sorte!...
- Pois, pois, retorqui: "ter sorte" dá imenso trabalho, " amigo"...
O "meu amigo" não se explicou sobre o tempo do verbo: a sorte "era só minha", das equipas de que tenho feito parte, ou do Barril de Alva no seu todo? Calculo que estivesse a referir-se ao último executivo da Junta de freguesia do Barril de Alva, ou ao atual elenco da União das Freguesias de Coja e Barril de Alva. Ou ao Barril de Alva, no seu todo...
"Apenas minha" foi a palmadinha que me deixou nas costas à saída do cumprimento...
-
Texto  "facebookiano" publicado  no dia 16 de maio de 2015


 

quinta-feira, 25 de abril de 2024

O dia 25 de Abril de 1975 (também) foi uma “espécie de arco-íris” ...

 


Em Abril de 1975 residia em Moçambique, na cidade de João Belo, Xai Xai, capital do distrito de Gaza, exercia as  funções de  gerente comercial numa das maiores empresas do setor, e tinha sido eleito secretário da Associação de Desportos  do Distrito de Gaza.

A revolução “dos cravos”, foi recebida com euforia  em Malehice, Chibuto, Distrito de Gaza, de onde era natural Joaquim Chissano.

Em João Belo, e nas outras localidades, a maioria da comunidade europeia partilhou com agrado a satisfação da população africana pelo primeiro passo para o fim da luta armada e consequente independência de Moçambique, como era o desejo de quem aí tinha nascido e de muitos outros que, pela paixão do amor, tinham adotado  aquela terra  como sua. Era o meu caso!


Dias depois  do 25 de Abril de 1975, em nome dos proprietários da Casa Fonseca e dos seus funcionários, subscrevi um telegrama endereçado a Joaquim Chissano, que ocupou a função de Primeiro-Ministro do Governo de Transição até 25 de junho de 1975, data da proclamação da independência de Moçambique; posteriormente assumiu a pasta de Ministro dos Negócios Estrangeiros e mais tarde foi eleito Presidente da República.

O texto do telegrama, em síntese,  parabenizava o ilustre conterrâneo pelo seu  empenho no futuro de Moçambique, terra de “todos nós”, independentemente das suas origens, cor da pele, raça e religião.

- O dia 25 de Abril de 1975  (também) foi uma “espécie de arco-íris” ...

quinta-feira, 28 de março de 2024

ESTGOH, 2007 - Caloiros “à solta”

 “(…)O Ginja II, que tem jeito para o canto, apresentava-se com um estilo de penteado com tendências futuristas, deu nas vistas - pelo menos enquanto não visitou o barbeiro para acerto das escadinhas laterais, entre as orelhas e o cocuruto(…)”


 Não perco pitada das estórias contadas em jeito de crónica pelo escritor Rui Zink, daí que procure alguns dos seus subsídios para meios sorrisos eloquentes, como o excerto deste texto: “Dinossauros excelentíssimos”, que pode ser lido nas suas crónicas benditas: “Luto pela felicidade dos portugueses”.
“…Ao almoço, no restaurante:
- O que recomenda?
- O pargo está uma delícia, e além disso é licenciado em Económicas
- Hum… licenciado em Económicas…
- Mas olhe que está uma categoria…
- Eu sei, mas queria qualquer coisa mais substancial. Não tem nada com mestrado?
- Peixes não, - mas tenho umas costeletas de vitela que estão a tirar o doutoramento em Oxford. Fritinhas e servidas com batatas da Católica ficam uma maravilha”.

O  saboroso diálogo bem podia fazer parte de um sketch a que os novos caloiros estariam sujeitos, se a Praxe académica tivesse outros contornos de entretenimento puro, o que não invalida a comicidade dos parodiantes em situações inventadas, na hora, pelos doutores.

Graças aos noviços da ESTGOH fiquei a saber que o balcão do bar onde alguns estudantes foram vítimas da Praxe, mede “quase” oitenta paus de fósforos; não acredito, apesar dos encarregados, na proporção de três para um (trabalhador), garantirem a autenticidade dos cinco centímetros de cada amorfo.
As dúvidas resultam do facto de, entre eles, apesar da sobriedade com que se apresentaram ao trabalho, não existir consenso quanto às metades que faltam ou sobram a cada ladrilho: que fazer aos sobejos dos ditos? Ou será que são pequenos em demasia?
Em defesa da lógica, o doutor Carlos Maia “Fiúza”, filósofo de ocasião, apontou uma garrafa de Porto e do alto da sua insigne sabedoria, discursa:
- Isto é simples: para mim, a garrafa está meia vazia; aqui para o Ginja, meia cheia!
O Ginja II, que tem jeito para o canto, apresentava-se com um estilo de penteado com tendências futuristas e deu nas vistas - pelo menos enquanto não visitou o barbeiro para acerto das escadinhas laterais, entre as orelhas e o cocuruto. Pensativo, o Ginja II, como se imagina, concordou com o mestre, não fosse este ordenar punição maior pela irreverência do contraditório.
A tertúlia compôs-se, segundo o grau e qualidade de quem ia chegando – pessoas ilustres e ilustradas pelo traje negro sem pergaminhos, por ora, a saber: doutores Hélder Pinto, Romeo (com o, sim senhor …) Vieira “Laurent Robert”, Bruno Gomes, e Carlos Maia ”Fiúza”, os engenheiros Santarém, “o campino”, Álvaro Ferreira, ”o músico”, a que se juntaram os afilhados Mi Gusto, Lloyd e Roger. Faltaram à chamada o doutor João Paiva, “o teórico da bola”, possivelmente a congeminar nova tática que possibilite vitórias ao seu clube, e o engenheiro João Bagorro, “o alentejano”, talvez a meio da única “imperial” do dia!
A coberto dos cuidados paternos, alguns ficaram no anonimato, como convém.
Para o Ludovic Costa, “o francês”, 23 anos de idade, licenciado em Económicas, voltar a ser caloiro em Engenharia Civil, “é obra”!
A ESTGOH começa a ser aliciante para a classe estudantil, daí que a Praxe se instale com cânones próprios - falta eleger o Dux Veteranorum!!
Perante “malta” de tal jaez, espera-se, em Oliveira do Hospital, um ano letivo recheado de bons costumes académicos.
Quanto às aulas, há tempo, “o ano só agora começou” – palavra de caloiro!

* Publicado em 2007  - https://ritualmente.blogspot.com/

... 2 "testemunhos

Que saudades!
De ser caloira e matar a formiga aos gritos! de ser doutora para poder praxar... sempre fui muito branda se os pudesse safar, safava...
O meu traje... a minha lapela amarela e cinzenta... a cartola... a bengala...
São apenas recordações!
Bom ano para os caloiros! Aos doutores muito estudo da fisica do levantamento da caneca!
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Que saudades...
Saudades, sim saudades... Quem diria que eu um dia viesse a escrever isso, eu que sempre fui "do contra". Mas é, tudo isso deixa imensas saudades:
Aquele café meio escondido onde passei grande parte do tempo (a trabalhar), conversar, cantar e as vezes até quem sabe se nao filozofava, e os meus pais pensavam que eu estava em casa tal um menino bem comportado a estudar! "Ai se eles soubessem" lamentava eu quando ja depois de acabar um certo Logan 12anos e ouvindo o melhor Ritualista dizer-me: "Ja estas lindo!"; pois é o Ritual deixa-me imensas saudades.
E aquelas pessoas que me acompanharam desde o inicio desta vida estudantil. Nao esquecendo os que me "apanharam" na recta final. A todos um eterno obrigado, nao eskecendo ninguem e começando pelo meu familiar mais proximo Sr. Carlos, Maia, Andreia, Roger, Ana(s), Helder, Lipinha, Teresinha, Madeirinha, e tantos mais.; pois é o essas pessoas todas deixam-me imensas saudades.

Ass.: Roméo (com o, sim senhor …) Vieira “Laurent Robert”

segunda-feira, 18 de março de 2024

A importância de se chamar Dulcineia



Do meu sítio vejo os novos moinhos de vento implantados na Serra do Açor. A bem do progresso e da economia, a paisagem está, em definitivo, alterada; o horizonte, se o céu não estiver escondido pelas nuvens, ficou estranho para quem entende pouco ou nada de energias renovadas.
Para sempre, desaparecem os moinhos que moíam os grãos. Os atuais aerogeradores são gigantes com uma “cabeça” a piscar de vermelho na noite; de dia descobrem-se as “velas” num movimento constante e pouco apressado, com a finalidade de converter a energia eólica em energia elétrica. Parte dela fará mover sofisticadas engrenagens com funções semelhantes às dos antigos moinhos dos moleiros, imagens ilustres da obra de Miguel de Cervantes, D. Quixote de la Mancha
O autor narra, entre outras aventuras, a luta de D. Quixote contra os moinhos de vento que o próprio confunde com gigantes.
Se Miguel de Cervantes existisse neste tempo de modernidades, a ponto de viajarmos a outros planetas, certamente teria dado outro sentido à sua imortal obra e era bem capaz de inventar outro personagem, talvez com a “mesma triste figura” do seu cavaleiro andante, mas por outras causas…
Imagino a “minha serra” do Açor como mote para estória novelesca, desvendando segredos, como os que estão associados à aldeia histórica do Piódão.
É por aqui que me fecho num silêncio absurdo sobre a paisagem, quase “morta” de gentes e animais – nem um corvacho a sondar do alto a ração do dia, muito menos um “moleiro”, se é que os houve por lá noutros tempos.
Conduzo devagar, a seguir a uma curva, descubro a aldeia, faço uma pausa na viagem e contemplo a realidade de um sítio de total encantamento. Cá de cima não vislumbro qualquer tipo de vida, como se o Piódão estivesse adormecido.
Continuo sem mais paragens até ao largo da Igreja. Depois, a pé, ando por ali numa espécie de solidão de bem-querer – desejo-a assim, que me faz bem à alma. Subo por uma rua minúscula e, na volta, o olhar perde-se no topo da serra e nos gigantes que “protegem” a aldeia…
Este momento único foi suficiente para reviver a estória do D. Quixote de la Mancha e do seu escudeiro Sancho Pança – duas personagens do imaginário fantástico de Cervantes.
Junto-lhe uma terceira, que nunca se “vê” na obra, mas sente-se a sua importância na vida apaixonada do cavaleiro: Dulcineia.
Estou, na vida, como D. Quixote de la Mancha em relação à figura que nunca viu – só dei conta disso num dia de Outono, no Piódão, aqui tão perto…
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In 

RiTuAL(idades) - novembro 2008

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

Uma cidade chamada Inès


 Volto à nostalgia para situar um ponto no Índico: Moçambique!

Foi naquele país encantado por deuses de múltiplas facetas estéticas que me descobri como homem; cresci e quase completava determinado ciclo da minha existência quando valores mais altos se levantaram e retornei, em boa companhia, à casa onde nasci neste ponto da Europa, longe do Atlântico que leva saudades à Baía do Espírito Santo em barquinhos de papel.
Em tempos nunca esquecidos, a "minha cidade"  teve nome de navegador: Lourenço Marques!
Fosse eu Pedro na lenda da Quinta das Lágrimas e teria chamado à minha cidade, Inês!

* Na falta de ondas e marés, sem correntes de feição, recorro à ciência deste tempo para estar mais perto da minha gente, e ouço os sons que chegam do outro lado do mundo, aqui mesmo - basta um "click" !
No serão da última noite, tive companhia de elevado grau e qualidade - do locutor de serviço ao homem da técnica, de Villaret a Manuel Alegre, de Pedro Abrunhosa à "ELisa Gomara Saia", interpretado por voz genuína, sem trejeitos.
...E o telefone mesmo aqui, à mão!
Num impulso, marco um número. Espero dois, três segundos:
- Bom dia, fala da Rádio Moçambique.
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Eram quatro da madrugada na "minha terra"...
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Publicado em dezembro de 2005 no blogue  "ritualidades" - https://ritualmente.blogspot.com/2005/