La Fontaine por certo não teria desdenhado juntar às suas fábulas a estória
da raposinha que vem todos os dias – e à hora certa, mais minuto menos minuto!
– “jantar” ao restaurante “Vale dos Amores”, perto de Fiais, na freguesia de
Ervedal da Beira. Se os “animais falassem”, seria curioso conhecer de “viva
voz” o que vai na cabeça da raposinha para se entregar de “corpo e alma” à
gentileza da sua presença, que já se tornou um hábito. O proprietário do
restaurante, Humberto Cerejeira, conta como tudo começou:
-“ Eu e a minha mulher, há uns quatro meses, começámos a notar que o saco
do lixo aparecia rasgado. Pensávamos que era obra de algum cão que andasse por
aí, de noite, mas um dia a minha esposa viu a raposa perto daqui e não fez nada
para a assustar; então, o animal foi aparecendo, dávamos restos de carne, e ela
acostumou-se a nós”.
O Humberto, carinhosamente, batizou-a de “Lulu”. No dia em que a reportagem
do “Correio da Beira Serra” se deslocou ao Vale dos Amores, já a tarde
caminhava para a noite, o restaurante tinha a esplanada bem composta de
clientes, alguns deles, conhecedores da notícia, eram repetentes. A primeira
surtida da raposinha tinha acontecido minutos antes, mas ficou a promessa do
Humberto que “… não tarda por aí, é uma questão de esperarem um pouco mais,
porque ela pega no pedaço de carne e vai, possivelmente, esconder, nunca come
perto de nós…”.
A “Lulu” não tardou, os clientes mais atentos viram-na chegar; fez uma
pausa a uns metros de distância, e como ninguém lhe fez negaças, aproximou-se
devagar, orelhas levantadas e o olhar atento ao mais pequeno movimento.
-“Lulu”, toma – diz o Humberto – e o animal, sem pressas, aproximou-se por
entre as mesas, abocanhou o seu quinhão de carne, e voltou, nas calmas, pelo
mesmo caminho. A cena repetiu-se várias vezes, mesmo quando a ração era
entregue por uma criança. Por vezes ficava parada perto da esplanada, como se
esperasse que o “padrinho” a “convidasse” a entrar – só ele e a mais ninguém a
raposinha “respondia”.
Numa floreira alta que fica perto, o Humberto escondeu um pedaço de carne;
ela aproximou-se, um pequeno salto, farejou e… levou o “petisco”!
-"Não pensem que a “Lulu” come de tudo, tem o gosto refinado - comenta
o Humberto - pão, só se tiver manteiga, não gosta de sardinhas assadas, prefere
carne, mas do que ela gosta mais é de camarão”!
O animal é, como se calcula, uma atração no restaurante. Como mais vale
prevenir do que remediar, foi desparasitada e já “…falei com o médico
veterinário para ver se a conseguimos vacinar e colocar-lhe uma coleira”,
acrescentou o Humberto que, a talhe de foice, sempre vai passando palavra aos
vizinhos – não vá alguém ter a infeliz ideia de fazer uma espera à “Lulu, de
caçadeira na mão…
(...) O “padrinho” tornou-se responsável por ela, cativou-a, como na
estória do “Principezinho”, de Saint-Exupéry.
-“ Lulu, toma”!
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Publicado no "Correio da Beira Serra" no dia 5 de agosto de 2008, incluindo a foto
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Publicado no "Correio da Beira Serra" no dia 5 de agosto de 2008, incluindo a foto
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