sábado, 28 de janeiro de 2017

Já se vai embora?

A tia Deolinda era  senhora de gentileza sublime. Tinha sentido de humor e até os queixumes sobre a sua avançada idade vinham envolvidos em sorrisos. 
Alegre e divertida na mocidade, por razões que nunca questionei, não chegou a constituir família.
Durante os anos em que privámos, sobretudo durante as visitas de cortesia, recebia com requinte: chá, café e bolinhos servidos em louça ”de marca”, toalhas bordadas à mão, mas o melhor de tudo eram as conversas sobre as suas memórias…
Não sendo senhora de frequência diária, sempre que podia assistia à Missa. Um dia, contava a tia Deolinda, estava tão absorvida nos seus pensamentos que não deu conta que se aproximava o momento da saudação. De repente, a pessoa que estava a seu lado, cumprimentou-a com um aperto de mão e ela, sem saber muito bem que dizer, possivelmente a pensar nas despedidas, continuou, como sempre, a ser gentil e fina no trato com palavras de circunstância, enquanto mantinha a mão que lhe era estendida apertada na sua:
- Já se vai embora? Fique mais um bocadinho…
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Editado de outra edição - 10.2011

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