segunda-feira, 2 de maio de 2016

Albertina e Dionídio

Peregrinei pelas minhas memórias e reencontrei-me com a estória de Albertina e Dionídio, publicada em junho de 2009. 
Se há estórias de amor dignas de fita de cinema, esta é uma delas.
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Para sempre – 50 cartas de amor de todos os tempos”, é uma pequena enciclopédia com mensagens, frases, reflexões e imenso romantismo. 
O filósofo Jean Jacques Rousseau dizia que elas, as cartas, “começam sem saber o que se vai dizer, e terminam sem saber o que se disse". Álvaro de Campos, foi mais longe e deixou para a posteridade outra frase célebre: “todas as cartas de amor são ridículas…”!
O livro reúne textos de várias personalidades, de Beethoven a Chopin, de Franz Kafka a Fernando Pessoa. Os homens não diferem muito nas questões do coração quando o descobrem apaixonado e, por vezes, retratam o sentimento de forma tão sublime quanto pueril…
Para lá das cartas trocadas pelos amantes, há estórias (de amor) cujos relatos nem sempre têm um final feliz: “Tristão e Isolda”, de autor desconhecido do século XII (?), ou “Romeu e Julieta”, de William Shakespeare, são disso exemplo. Felizmente, tal não aconteceu, em 1945, ao casal Albertina e Dionídio, residentes em Meda de Mouros, aqui bem perto!
A força da paixão dos jovens amantes levou de vencida as contrariedades ao muito bem querer com que enfeitaram os sonhos, como se conta ao correr da pena, depois de lido o livro “Meda de Mouros e as suas gentes”, de Salvador da Costa e Luís Castanheira.

Era uma vez...
Albertina de Jesus e Dionídio Pereira namoriscavam-se e disso não guardavam segredo. O entusiasmo do primeiro amor, naquele tempo, era capaz de quase tudo, excepto contrariar interesses familiares.
Eduardo, bastante mais velho, viúvo, industrial de panificação, entendeu alargar os sues apetites amorosos e declarou-os à Albertina e aos pais, que se mostraram “sensíveis” aos seus interesses e promessas de casa farta…
- Nunca! – terá dito Albertina, a conversada do Dionídio.
Porém, a insistência foi tanta que a pobre rapariga, por respeito (ou medo?) aos progenitores, acedeu. Ela e o Eduardo, o viúvo, à socapa, foram comprar o enxoval sem se rodearam de grandes cuidados e a notícia não tardou em chegar ao conhecimento do Dionídio que, “…perdido de amor, adoeceu, ficou acamado, recusou alimentar-se e dizia à mãe que morreria se não lhe fossem buscar a Albertina”! A senhora, perante a dor do seu amado filho, implorou aos pais da Albertina que tivessem em conta o amor de ambos, mas de nada valeram as lágrimas, que certamente terá enxugado com uma das pontas do xaile negro com que se cobria. Conta-se, na estória, que a senhora, “com o espírito amargurado, caminhou em clamor pela rua acima…”.
Perante tamanha tragédia, dois amigos do apaixonado Dionídio convenceram-no a raptar a amada, e logo engendraram um plano, que passava pela ida da Albertina à fonte, ao anoitecer, onde havia de explicar-se, olhos nos olhos, ao seu Dionídio. Nada consta sobre os pormenores do “rapto”, mas sabe-se que ela deixou a rodilha e o cântaro na fonte e refugiou-se na casa de um dos mentores do acto, o Augusto Lopes.
Ao saber do caso, Luís Pereira, pai da Albertina, na companhia de dois irmãos desta, foi em busca da filha. Chegados ao refúgio, vem a Albertina com lágrimas a rolarem pela face, e corajosamente enfrenta os familiares, afiançando-lhes que só se casaria com o Dionídio. 
Conformados, pai e irmãos, regressaram a casa….
Mais tarde realizou-se o casamento da Albertina e do Dionídio… e foram felizes para sempre!
Agora, aos noventa anos, a memória da dona Albertina já não é o que era. Se fosse, a estória viria inteira!
Do viúvo Eduardo nada (mais) consta.

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