segunda-feira, 6 de outubro de 2025

A última Junta



A equipa que liderei na Freguesia do Barril de Alva nos últimos quatro anos da sua existência (2009/2013) deixou obra feita, como é (ainda?) reconhecido pelo povo da minha terra, “…exemplo a ser seguido…” por autarquias de dimensão semelhante, como acentuou, na época, o presidente da Câmara Municipal de Arganil durante um encontro de contexto institucional.
A força da vontade de “fazer mais e melhor”, o espírito criativo do executivo, a plena entrega à causa pública, a liderança honesta e serena, eram os condimentos essenciais para lutar – como lutámos! – pela manutenção da Freguesia do Barril de Alva.
O sonho de, pelo menos, cumprirmos mais um mandato desfez-se como bola se sabão, ficando pela metade a construção do harmonioso jardim, planeado com régua e esquadro, concretamente:

- o aproveitamento da casa dos professores da escola, transformando-a em dois apartamentos de razoáveis dimensões, a continuidade da escolinha “Caracol ao Sol”, o acrescento de mais valias à Área de Serviço para Autocaravanas (reconhecida internacionalmente como das mais bonitas do país, pela estética e localização), a recuperação do campo de jogos da Associação Desportiva, Recreativa e Cultural Barrilense, legalização do projeto de loteamento de um terreno urbano, etc, etc.
“Um jardim sem flores não existe”: foram plantadas dezenas de árvores, roseiras e outras plantas de pequeno porte… e não faltava espaço e vontade para continuar a alindar e enriquecer o “jardim”!

E havia um plano para fazer da zona de banhos, junto à ponte, uma das melhores praias fluviais da região com a “simples mudança“ da roda de alcatruzes da margem esquerda para a outra margem, aproveitando a queda das águas para alimentar uma piscina de água corrente, a edificar no local onde existia um campinho de jogos!

Já nessa altura, a grande preocupação do executivo estava relacionada com a falta de eleitores residentes. Sem outras (?) possibilidades de atrair pessoas, o Turismo de qualidade era a nossa aposta consciente.
… E borbulhavam OUTRAS ideias na minha mente, do João Gouveia e do Constantino Moura, “tão grandes como o tamanho da minha aldeia”, que é tão grande como outra terra qualquer" – Alberto Caeiro.
*
A poucos dias das eleições autárquicas, o pregão das médias, grandes ou pequenas obras é um dado comum nas ideias de quem as tem. Amigos meus, residentes na sede da freguesia, entre sorrisos, “brincam” com a minha aldeia:
- Ah, o Barril de Alva é um dormitório de Coja!
- Antes fosse, digo eu, era sinal que usavam o nosso código postal e tinham o nome próprio a seguir ao ítem ... local da residência:
- BARRIL DE ALVA!

(… Com a “intervenção dos bons ofícios” da Santa Maria Madalena, Santo Aleixo, S. Simão e de mais eleitores, talvez um dia possamos erguer de novo a voz da autonomia administrativa. Quem sabe?).

Calbertoramos

terça-feira, 30 de setembro de 2025

Uma cruz num “quadrado mágico”



Fernando Vale: 
“Quem faz o que pode,
faz o que deve”…

Eleições à porta - a aldeia do Barril de Alva, pelo facto de ter ficado sem a sua independência administrativa, não é alheia ao momento histórico de um tempo onde, ao que parece, o povo a  que pertenço se ausenta da sua responsabilidade participativa nos atos eleitorais com a consciência aparentemente tranquila. E se ela, a consciência, tem laivos de rebeldia por algum tipo de descontentamento, é “moda” mudar do “certo para o incerto”.

Sem mais delongas: importo-me com o meu concelho e, naturalmente, com a minha freguesia. Tudo o que vier por bem - dos projetos das ideias à competência dos candidatos - mesmo assim, justifica ponderação de quem tem a obrigação cívica de colocar a preceito uma cruz num “quadrado mágico”. Esse é o momento solene para “apostar no certo” e abandonar a ideia peregrina de que, desta vez, com desdém, se “mandam às malvas” os valores democráticos que sustentam o País que somos.

Por mim, sigo os ensinamentos de Fernando Vale: “Quem faz o que pode, faz o que deve”…


sexta-feira, 5 de setembro de 2025

“O meu desejo de ser útil é inabalável”




Há um tempo para andar de braço dado com a utilidade do bem-fazer junto da comunidade a que pertencemos; quando o intelecto e as forças dão sinal de fraqueza, o melhor mesmo é manter o espírito solidário e disponibilizar algum do conhecimento adquirido ao longo de uma vida sempre que para tal for solicitado.
O meu desejo de ser útil à terra onde nasci, Barril de Alva, e à terra (Coja) que me “adotou como filho”, segundo “decisão sentimental” pública do falecido padre António Dinis em fevereiro de 1982, permanece inabalável.
Depois de recusar outra distinção na lista, aceitei o honroso convite para ocupar o último lugar na candidatura do Partido Socialista à União de Freguesias de Coja e Barril de Alva, assumindo a minha posição solidária e fraterna perante a equipa liderada pelo Jorge Paulo Amaral, a quem perspetivo uma vitória sem rodeios.
Acredito na dedicação e no trabalho de TODOS ao serviço da União de Freguesias de Coja e Barril de Alva, de acordo com o grau de qualidade e competências de cada membro.
- O que não falta no nosso território é trabalho!

Carlos Alberto Ramos

terça-feira, 5 de agosto de 2025

Um guardanapo como recordação

 

Lembrança da F.A.V.A.

Na passada sexta-feira, durante o espetáculo da F.A.V.A,, em Coja, o público aderiu ao serão em grande número. O estilo do concerto não “pedia” lugares sentados, mas havia algumas mesas corridas com bancos, cobiçadas pelos espectadores; eu, a Lurdes e mais uns amigos ocupámos uma…
Enquanto as “imperiais” não chegavam, corri o olhar pelo Prado e prestei atenção à mesa, onde estava um papel branco - era um guardanapo, que desdobrei com cuidado, por sorte minha, de outro modo não teria ficado encantado com a minúcia dos pequenos desenhos, obra de alguém dotado com talento e imaginação, a quem teria gostado de parabenizar pela sua arte.
A pequena “tela” veio enriquecer o meu arquivo de recordações semelhantes, alguns da autoria do meu fraterno amigo Carlos da Capela, da Benfeita, do Roby Amorim, antigo colega dos jornais, e de outras personalidades da mesma área com quem tive a honra de privar.

terça-feira, 22 de julho de 2025

Memórias da "Sibéria"

 

Cervejaria Sibéria - rua do Porto, Lourenço Marques

Em 1962, além de estudar (colégio Marques Agostinho / Camões?) e dos primeiros passos como vitrinista na Casa Vilaça, joguei futebol nos juniores do Sport Lourenço Marques e Benfica. Nos fins-de-semana e tempos extra, havia a J.O.C. da Malhangalene (Juventude Operária Católica) e “OS METRALHAS” (espécie de clube “só” de rapazes ).
À “mão de semear”, na Rua do Porto, havia a Cervejaria Sibéria, onde eu e alguns amigos do bairro confraternizávamos ao redor da mesa com “Laurentinas”, Catembes, Tricofaites” e outras especialidades sem álcool, como os refrigerantes “Tombazana”, Ginger Ale, Coca Cola – água pouco, ou nada.
A casa onde morava ficava virada para a Mercearia Cordeiro, à distância de poucos metros da “Sibéria”.
Guardo memórias desse tempo, mas o grande “marco histórico” de 1962 (e dos convívios na “Sibéria”!) foi a vitória do Benfica sobre o Real Madrid por 5 -3! Pela segunda vez o “nosso” Benfica era campeão europeu!!!
Nesse dia, não havendo TV,  "vimos o jogo" através do relato da Enissora Nacional, muito bem acompanhados por  "loirinhas"  fresquinhas! 

 Estádio Olímpico de Amsterdão,na Holanda - 2 de Maio de 1962. 
Benfica,5 - Real Madrid, 3


Curiosidade
Na fachada do edifício da “Sibéria” existiam uns pequenos desenhos (?) alusivos aos profissionais da construção civil; depois do regresso à terra natal em 1975, tive a honra de conviver com o Dr, Fernando Vale, Maçom e fundador do Partido Socialista, o que me levou a uma “viagem” voluntária pelos caminhos dos Pedreiros Livres, termo que se refere à Maçonaria. 
Continuo na dúvida sobre os “desenhos” da Cervejaria “Sibéria” … 
O edifício da Escola Industrial de Lourenço Marques, em tempos idos, "(...) foi o maior templo maçónico em todo o espaço português e um dos maiores no Sul de África – é o que diz da História.


O tempo de todos os sonhos



terça-feira, 15 de julho de 2025

Um "fato novo"



Visitei o histórico de um blog moribundo e recuperei um texto sobre o Urtigal – coisas do meu agrado (tudo o que leio e escrevo sobre o Barril de Alva são “coisas” do meu agrado…).
Na altura, rematei a peça original com uma ideia poética e agora, depois de reler, ponderei se devia acrescentar mais umas linhas no mesmo estilo. Como a inspiração não abunda nesta tarde de terça-feira, pensei experimentar um “fato novo”, semelhante a outros em voga nos tempos de agora: cliquei na IA da Google e colei a tal “coisa do meu agrado”:

Junto da bica água cristalina
à corrente a caminho do Mondego
e faço do olhar mirante da paisagem
- como é belo o Urtigal !
 
“Gentilmente”, pedi a “alguém do outro lado” que completasse o texto. Segundos depois, “ofereceram-me” um poema catita, que segue, com a devida vénia ao “autor”:

Na sombra, junto à bica,
água cristalina escorre,
um murmúrio que me toca,
paz que a alma me socorre.
À corrente do Alva, ligeira,
sigo o curso, em pensamentos,
a caminho do Mondego.
E faço do olhar mirante fiel,
testemunha da beleza infinda
- um doce mel,
onde a vista se deleita e finda.
Ah, como é belo o Urtigal,
com seu verde que irradia,
um recanto quase irreal,
onde a natureza nos guia.

E é isto.
O "fato novo" não foi feito à minha medida... mas "serve-me"! Se o futuro é “isto”… quem sou eu para “contestar”? 

segunda-feira, 14 de julho de 2025

Natália - a flor...


 A planta estava moribunda num canto do jardim quando a encontrei. Era a única espécie  que restava do tempo da mãe Natália, que  tinha imensa “sorte” com as flores – era o que eu pensava: bastava um pequeno galho espetado num vaso e, era certo, daí a uns tempos o vaso ganhava outra vida,  mais colorida…


Como não tenho a mesma “sorte” da mãe Natália, levei anos (!!!) a recuperar esta plantinha –  repousar  o olhar nas florinhas amarelas era uma “necessidade”  emocional.

Ontem aconteceu o “milagre das flores” e a mãe Natália “era uma delas”…


quinta-feira, 3 de julho de 2025

- Dê aí uns rebuçados aos miúdos, depois pago…





Além do “Chiado” e do Talho Quaresma, a comunidade do Barril de Alva tinha à disposição outros estabelecimentos comerciais: a taberna do “ti Zé” Candosa, a mercearia do Coelho, os serviços do barbeiro António do Vale (regedor da terra), do tamanqueiro "ti" Albano e de um ferreiro.
Naquele tempo, além da indústria de madeiras, no Barril de Alva havia uma fábrica de bolos secos, propriedade de Joaquim Trindade, duas padarias e o João Abrantes dedicava-se ao fabrico de bonecos de papelão, utilizando moldes próprios.



Um outro espaço comercial, com negócio multifacetado, ao estilo do Chiado, pertencia ao José Valentim, pessoa de muitos saberes e ocupações - além do exercício da sua profissão, era membro ativo dos corpos sociais da Filarmónica e correspondente de jornais.
Junto ao seu estabelecimento,  no outro lado da rua, nos dias de folga jogava-se à “malha”. Os bancos da “esplanada” que se destacam na imagem, ficaram mais baixos depois dos vários arranjos na “avenida” mas, se “falassem”, contavam estórias sem fim, a condizer com a alegria de acertar com a malha no “fito” e dos copos do “tinto” do pipo, que tinha um torneia “sonora”:
-“Cherrrrrrrrrrrriii…”
Eu e outras crianças, da “esplanada”, apreciávamos o entretenimento dos homens.
Às vezes, um jogador pedia ao senhor José Valentim:
- Dê aí uns rebuçados aos miúdos, depois pago…





terça-feira, 10 de junho de 2025

Quando o Largo do Minho era o “coração” da Malhangalene

Largo do Minho - foto retirada da internet
com a devida vénia



A cidade de Lourenço Marques, traçada com mestria a régua e esquadro, cresceu de forma ordenada; cada bairro tinha características específicas, como era o caso da Malhangalene, que se destacava de todos os outros pela dinâmica associativa de várias coletividades, com realce para o Clube que lhe emprestou o nome.
O Largo do Minho, para os mais novos, pelo parque infantil, era o “coração” do bairro e ponto de encontro dos adolescentes, principalmente dos que dispunham das populares motorizadas da marca “ONDA 50”.
Naturalmente, as meninas mais crescidas e bonitas  que moravam no Bairro (e arredores) "atraiam" os galanteadores… motorizados. Que eram muitos e barulhentos!
 
*
 
Estávamos em 1961/2. Aulas durante a semana, ao domingo frequentava a JOC, ia à Missa e, de vez em quando, treinava futebol no 1º de Maio - não era o “meu” Benfica – aconteceu mais tarde – mas como vestiam camisola vermelha, era como se fosse…
Certo dia, no Largo do Minho, conheci a Amélia. Era maneirinha, alegre, de rosto bonito e sorriso contagiante. Morava com os pais no rés-do-chão de uma vivenda no começo da Rua da Guarda, e no primeiro andar, residia a família do Carlos Silva "Canguru", que tocava bateria e foi elemento de destaque dos "meus" Night Stars .
Durante uns tempos "passava" pela Rua da Guarda com mais frequência. A pretexto dos ensaios do meu novo amigo Carlos, fazia “olhinhos” à simpática Amélia - ela do lado de dentro do quintal, os amigos no lado de fora, no passeio; as conversas de ocasião eram puro entretenimento e eu, confesso, tentava disfarçar a minha leve paixoneta…
Como a memória não dá para mais, recordo o meu “desgosto” quando soube que a “minha quase/paixão” namoriscava um jogador de hóquei do Malhangalene, a quem tratavam por “Catrapaz”!

(Uff... um jogador de hóquei em patins usa um “stick” no jogo! Nas mãos de um namorado ciumento pode ser uma autêntica “arma de arremesso”!)
...
-Ainda bem que não me atrevi a entregar à Amélia um cartão com uns certos dizeres, ao estilo do “Namoro”, poema de Viriato da Cruz “ com música de Sérgio Godinho:

“(…) Mandei-lhe um cartão
que o Maninjo tipografou:
"Por ti sofre o meu coração"
Num canto - SIM, noutro canto - NÃO
E ela o canto do NÃO dobrou (…)"

Certamente a Amélia também dobrava o canto do “NÃO” - e o “Catrapaz” ? Pois... exsitia mesmo?

*****

Night Stars 
Bob, Mário Ferreira, Noel Cardoso,
Alexandre Rodrigues e Carlos Silva


quarta-feira, 28 de maio de 2025

VICTOCALIS, como sempre


Coja, é a “cidade” mais próxima
da minha bonita e harmoniosa terra natal
– está à “distância das nossas mãos”,
como a Lurdes reconhece pelas contantes idas e vindas…

A grande referência de Coja, de quando eu era criança, é a “HAVANEZA” e os aromas a café a puxarem ao (meu) vício, não naquele espaço de tempo, mas anos mais tarde – dias houve em que, pausadamente, saboreava oito, dez, bicas…
- Sinto-me muito bem perto das pessoas com quem tenho afinidades de vária ordem, residentes na “capital” da União de Freguesias de Coja e Barril de Alva.
*
O introito desta estória remete-me aos anos setenta, pós África.

A novidade do mapa promove o espaço, o concelho 
e a região

Pelas minhas contas, desde 1976, “VICTOCALIS” é uma marca das minhas memórias.
A amizade com o Jorge Calinas deve ter assentado arraiais por essa altura, a ponto de propagandear, fosse lá onde fosse, que o estabelecimento “VICTOCALIS” ficava bem em qualquer metrópole, graças à delicada e agradável atmosfera estética com que o Jorge decorava os seus espaços comerciais.
Eu, que sou dos “vermelhos” nos gostos clubísticos, “aguentei” as nuances dos verdes da “VICTOCALIS” com espírito “desportivo” – o Jorge, além de amigo, era “o dono da bola”!

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades (…)” – escreveu Camões.

Na estória que me trouxe aqui, as vontades (do Jorge) não mudaram:
- Ele, o Jorge, continua a ser o “dono da bola”, com os mesmos “vícios esverdeados”, e eu continuo a defender a tese de que este café "VICTOCALIS” fica bem em qualquer metrópole – tal a delicada e agradável atmosfera estética com que o meu amigo continua a “encenar” os seus espaços comerciais.
Obviamente, permaneço “vermelho” nos gostos clubísticos e amigo do Jorge Calinas.