Com a devida vénia, respigo do “ponto de encontro” do site BigSlam.pt
excertos de um excelente trabalho
histórico produzido pelo jornalista moçambicano João de Sousa, já falecido,
publicada em outubro de 2020, a começar pela assunção das mudanças no “nosso” Bairro:
- “Verdade seja dita
que a Malhangalene do meu tempo não é a Malhangalene de hoje. Nem podia ser. O
tempo passa. As coisas mudam… “.
No texto, o
jornalista relata factos históricos de
reconhecido interesse, e refere outros perdidos no tempo, de curta
duração, como a participação do Bairro
num concurso de marchas populares, realizado pelo Rádio Clube de Moçambique no
ano de 1945. Para a posteridade ficou a Marcha
da Malhangalene, com letra de Ana Paula, musicada por Ramos Pinto.
Como adiante se verá, A MARCHA DA MALHANGALENE “tem o seu quê de bairrista” :
“Malhangalene bonita / De graça humilde e modesta / Com o teu vestido de chita / Também hás de entrar na festa…”
Refrão
“Esta marcha vai /Na rua a passar/ Na Malhangalene / Toda a gente sai
/P’ra a ouvir cantar…/Vamos rapariga /Que a tua cantiga / É que vai ganhar! / Toda
a gente canta / E a todos encanta / Porque
é popular
Tanto na rua de baixo / Como na rua de cima / Toda a gente se conhece / Toda gente se estima / E se alguém te quiser mal / Não tens nada que temer / Tens cá a Rua da
Guarda / Que te há-de defender”
“Se querem saber quem és / Podes
dizer com vaidade / És o bairro mais bairrista / Que existe cá na cidade”.
Por estranho (?) que possa parecer, em Portugal existe uma
outra “marcha” semelhante – refiro-me à Marcha
do Barril de Alva, aldeia onde nasci, no concelho de Arganil.
Como consta de um documento oficial, (…) esta aldeia ignorada já entrava no
cadastro da população de 1527 com a sua dezena de habitantes (…)! – Dr
Alberto Martins de Carvalho.
- Bem velhinhas, as raízes do meu sítio…
Sou suspeito, de facto, quando afirmo que a minha terra é
linda de ver; bonita e airosa espraia-se por encostas suaves até à margem
direita do rio Alva – dos pontos mais elevados, as vistas para a Serra do Açor
são soberbas!
Para que conste: MARCHA
DO BARRIL DE ALVA:
Refrão
“Esta marcha vai / Na rua a passar / No Barri de Alva / Toda a gente sai / Para a ouvir cantar / Cantai raparigas / Que as vossas cantigas / É que vão ganhar / Toda a gente canta / A todos espanta / Porque é popular”
“Tanto no Casal do Baixo / Como no Casal de Cima / Toda a gente se quer bem
E toda a gente se estima / Se alguém te quiser mal / Não tens nada que temer /Pois lá tens o regedor / Que te ha de defender”.
Como se explica esta “estranha coincidência”? No documento que existe nos arquivos da Casa/Museu do Barril de Alva, está escrito que o famoso cantor João Maria Tudela é o autor da “Marcha”, letra e música, “… oferecida ao saudoso António Silvestre, vindo de Lourenço Marques (atual Maputo)”!
Quem foi António Silvestre? Nascido no Barril de Alva, ”emigrou”
para Moçambiqe, onde fundou a Cervejaria Coimbra, sem sombra de
dúvidas, uma das melhores casas do género de Lourenço Marques!
…Quero acreditar que os direitos autorais da “Marcha” são
devidos a Ana Paula e a Ramos Pinto, e acredito que João Maria Tudela tenha
sido cliente da Cervejaria Coimbra e
amigo privilegiado do meu conterrâneo António Silvestre.
Como acontece com os grandes “hits” musicais, a marcha do
“nosso” Bairro, depois do sucesso obtido em Lourenço Marques, com ligeiras
adaptações, alcançou êxito nesta pequena aldeia da Beira Serra, “plantada à beira do rio Alva”.
Por cá, agora, pouco se ouve “A Marcha do Barril de Alva” – quem (ainda) canta a preceito é uma
jovem do meu tempo – a Fernanda Castanheira!
… O tempo passa. As
coisas mudam – tinha razão o meu antigo vizinho João de Sousa.
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1946 - Marcha da Malhangalene nas festas de Lourenço Marques |
https://delagoabayworld.wordpress.com/2013/10/16/a-marcha-da-malhangalene-em-lourenco-marques-1946/
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Foto da Cervejaria Coimbra: https://housesofmaputo.blogspot.com/2015/08/estamines-antigos-com-reclames-10.html
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