Quem aprecia sossego e algum isolamento social,
sem ser eremita, procura sítios e lugares
talhados à (sua) medida.
Em função dos pontos cardeais,
valoriza-se a localização da casa de férias, ou residência permanente, de
preferência a preços de pechincha na hora do negócio.
Nasci com a sorte do destino
(?) por ter visto pela primeira vez a luz do dia num quarto grande e soalheiro da casa
de família, feita de xisto. Mais tarde, o exterior da casa foi coberto com argamassa e o
sol não alterou a visita diária. Sou, pois, um privilegiado: depois de “correr
mundo” regressei às origens e a este sol…
A minha aldeia é graciosa e
simpática para quem chega. E tem um rio aos pés - a
grande atração dos veraneantes, como foi, em tempos idos, dos senhores das suas
margens, agricultores latifundiários; ao povo ficavam reservados fracos
quinhões, leiras minúsculas de onde se retiravam os ”mimos” consoante a época; semeando,
ou plantando, a terra tudo dava, ensinava o Borda-d’água…
Agora, hoje, “nada é como
dantes”, acrescentam os que mais somam primaveras da vida dura aos relatos
desses tempos. Sei do que falam, o “ti” Alberto e a Rosária, a esposa, o “Zé”
padeiro e a esposa Maria, meus vizinhos a duzentos
metros para cada lado da minha casa. Quando eu era criança, tinham eles a idade dos namoricos. Hoje, a “vida é melhor”, sim senhor, mas as leiras estão de
pousio, há pouca gente e desses poucos, poucos são os que semeiam ou plantam…
Havendo o rio, na minha
aldeia, durante o verão e de passagem, há (quase) sempre gente oriunda de outras paragens.
- Era uma casinha assim, com
muito sol, que eu gostava de ter numa aldeia sossegada, com pão todos os dias ao domicilio, peixe e carne uma vez por semana à porta, como está naqui no anúncio… - suspira a senhora da autocaravana no repouso com vista
para o rio.
Faltou acrescentar, no anúncio, que por cá também
se vende fruta variada (e outros produtos...) de forma itinerante.
Esta espécie de “mini mercado” sobre rodas faz-se anunciar com toques de buzina, mais ou menos estridentes. Se os eventuais clientes não estiverem atentos, perdem vez... e lá se vão as compras.
"Perder a vez" também acontecia, em tempos idos, quando não se chegava a horas e nos dias certos ao largo da escola - era aí que a carrinha da Biblioteca Itinerante da Gulbenkian disponibilizava “produtos prontos a servir”, confecionados por mestres como Camilo Castelo Branco, Aquilino
Ribeiro, Júlio Verne…
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