Um
dia recebi uma carta de amor, não a que imortalizei no longínquo ano de 1968,
de mim para mim, num poema tão puro quanto singelo - como militar, na época, os
malefícios da guerra eram suportados
pelo placebo das palavras de conforto
escritas nas cartas e aerogramas
vindos de longe; a pureza dos
sentimentos e a singeleza da escrita faziam de cada soldado um poeta - mas a
que chegou a meio da tarde de um dia
distante do ano de 2009, era primavera.
Esta foi a última carta de amor que o carteiro
deixou na minha caixa do correio – a última, embora persistam os gestos
românticos e fugazes paixonetas silenciosas, logo inconsequentes, sem direito a
cartas de amor de cá para lá, de lá para cá.
Quando
junto a saudade à nostalgia, não é ruim de todo: deixo voar o pensamento, que
se transforma num veloz bumerangue com retorno garantido “à minha mão”, carregado
de memórias…
Ela veio, a tua carta,
(…)
Ela dizia-me as coisas de que eu gosto,
que tu me dizes
(…)
Publicado no diário "Notícias", de Lourenço Marques, em outubro de 1968
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