sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

O bumerangue das memórias

Um dia recebi uma carta de amor, não a que imortalizei no longínquo ano de 1968, de mim para mim, num poema tão puro quanto singelo - como militar, na época, os malefícios  da guerra eram suportados pelo placebo das palavras de conforto  escritas nas  cartas e aerogramas vindos  de longe; a pureza dos sentimentos e a singeleza da escrita faziam de cada soldado um poeta - mas a que chegou a meio da tarde de um  dia distante do ano de 2009, era primavera. 
Esta foi a última carta de amor que o carteiro deixou na minha caixa do correio – a última, embora persistam os gestos românticos e fugazes paixonetas silenciosas, logo inconsequentes, sem direito a cartas de amor de cá para lá, de lá para cá.
Quando junto a saudade à nostalgia, não é ruim de todo: deixo voar o pensamento, que se transforma num veloz bumerangue  com retorno garantido “à minha mão”,  carregado  de memórias…

(…)
Ela veio, a tua carta,
(…)
Ela dizia-me as coisas de que eu gosto,
que tu me dizes
 (…)

*
Publicado no diário "Notícias", de Lourenço Marques, em outubro de 1968

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