A CARRIÇA tinha a morte anunciada!
Hoje foi o dia - o derradeiro dia para imaginar a última viagem das telhas a caminho dos fornos, agora adormecidas nos leitos. Quem tivesse a carteira mais recheada, podia chamar-lhes suas. Preço base para o lote: oitocentos euros !
- Quem dá mais... quem dá mais? , perguntava o leiloeiro obstinado.
Subiram as ofertas, o negócio fez-se por quatro mil e duzentos euros, "...para aquele senhor com a chapa número "tal"...".
Mais lotes, peças individuais, mobiliário de escritório, pá carregadeira, empilhador, caterpillars, laboratório, linhas de produção...
- Duas linhas de produção por setecentos mil euros. Quem oferece mais?
Plateia muda, burburinho na sala...
Antigos funcionários da CARRIÇA estão perplexos com os silêncios - um, de cabeça baixa, por certo negava as evidências do momento que lhe entristecia a alma...
Sem ofertas, o leiloeiro cumpre a lei e pede aos interessados que se pronunciem.
Agora sim, era chegada a hora do "banquete".
Animaram-se as vozes - a mais sonante ficou-se por menos de metade da base da proposta inicial.
Animaram-se as vozes - a mais sonante ficou-se por menos de metade da base da proposta inicial.
- Vendidas àquele senhor, com a placa "x", por trezentos e dez mil euros!
A CARRIÇA tinha a morte anunciada! Hoje foi o"último suspiro"...
Antes, durante e depois do leilão do património da "CARRIÇA", Gabriel García Márquez, escritor colombiano, Nobel da Literatura em 1982, permaneceu vivo nas memórias das minhas leituras - não pelo best seller "Cem Anos de Solidão" ou "Memórias de Minhas Putas Tristes", por exemplo, mas pelo título com que batizou uma das suas laureadas obras: "Crónica de uma Morte Anunciada".
Surrupio a ideia, não o conteúdo da estória...
Surrupio a ideia, não o conteúdo da estória...
- "Tenho uma tristeza profunda pelo esbanjamento deste património (...), vendido ao desbarato..." . O funcionário com "... dezenas de anos de casa", meneou a cabeça, desabafou mágoas e virou-me as costas. Por certo nem reparou no sujeito da chapa número "tal" quando retirou um "braçado" de notas do bolso das calças ...
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