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quinta-feira, 24 de outubro de 2024

Marco Paulo - "concerto no “Oriente Eterno”

 



Certo dia, o meu conterrâneo e amigo José Manuel Nobre veio à redação da revista Plateia, da Agência Portuguesa de Revistas, com o intuito de me sensibilizar para o “monumental” edifício que a Sociedade Filarmónica Barrilense estava a erguer na sede da freguesia.

Obra de envergadura numa terra pequena precisa de todas as ajudas…

Na época, a figura maior da música ligeira portuguesa dava pelo nome de MARCO PAULO! Um feliz reencontro com o artista trouxe a “minha” Filarmónica para a ponta da língua – de supetão pedi a sua ajuda:

- Com muito gosto, disse ele, se é para a Filarmónica... tenho de ver quando tenho  uma data livre (…).

Acertámos pormenores, e o MARCO PAULO, graciosamente, veio ao Barril de Alva para uma jornada que lhe ficou na memória (e dos barrilenses!), como fazia questão de recordar sempre que nos cruzávamos pelas festas e arraiais deste país; em Toronto, no Canadá, em 1981, através da Rádio, fez questão de falar “daquele dia em que participou num piquenique (no parque de merendas AIACO) e a Banda o surpreendeu com uma marchinha em que (também) decidiu participar…

Tive o privilégio da sua amizade e a proximidade da sua simpatia durante largos anos, que agora recordo através de uma “mão cheia” de momentos inesquecíveis.

Hoje, manhã cedo, acordei com a notícia da sua derradeira viagem para um “concerto” no “Oriente Eterno”.

Até um dia, MARCO PAULO.

 

 

 



domingo, 13 de outubro de 2024

A "viagem" para parte incerta da Maria (padeira)





A Maria viveu a dois passos de mim, da minha casa, no Barril de Alva. Habituei-me aos sorrisos e à simpatia dos seus cumprimentos:
- Olá Carlinhos, estás bom?
Gentil, a Maria, sempre foi pessoa de boa vizinhança, como o marido Zé “padeiro”, a Alda e a Olívia, filhas do casal.
Largos anos nos separam do momento que a fotografia mostra: eu, o “Manhoso” e mais dois “miúdos” com o andor da Santa Maria Madalena, padroeira do Casal Cimeiro, e a Maria "penitente"…
Tempos atrás, durante uma conversa ocasional, a propósito do passado glorioso do Barril de Alva, a Maria recordou-me João Abrantes - figura única na vida da comunidade por se dedicar ao fabrico de bonecos de papelão. Tendo sido sua colaboradora, afiançou com um sorriso a dançar no olhar que João Abrantes possuía enorme talento no uso das tintas com que realçava as feições dos seus bonecos.
- Era um artista, o João Abrantes!


A Maria de Lurdes Simões - Maria (padeira, por ser proprietária de uma padaria) – ao fim do dia de ontem, sábado, ”viajou para parte incerta”.
… Tantos anos a lidar com a minha vizinha Maria (padeira), quase porta com porta, e só hoje soube que tinha Lurdes no nome!
- Para mim será sempre Maria “padeira”, senhora por quem tenho enorme afeto.



sábado, 5 de outubro de 2024

Lauri, o estónio





Uma figura sorridente, em passo miúdo e com um cão preto pela trela, 
e cumprimenta-me na minha lingua materna:

- Bom dia.
- Bom dia, respondi,  questionando de seguida:
- Mora no Barril de Alva?
- Sim, lá para baixo - e apontou a rua.
- Qual é a sua nacionalidade?
- Sou da Estónia, chamo-me Lauri.
(Fantástico, pensei - a minha terra está a ficar cosmopolita...).
Esteticamente, a meu ver, o Lauri compunha uma personalidade distinta...
- Posso fazer.lhe uma fotografia para publicar?
- Sim.
"Bati a chapa", o Lauri gostou, e eu com um
... - obrigado e até à próxima, embarquei no Toyota a caminho de casa. Tinha o Bello à espera para o nosso passeio matinal.
-
Enquanto conduzia, um lampejo na memória recordou-me que a minha cordial amiga Graça Cardoso, se não me engano em 2016, foi de férias até à capital da Estónia - Tallinn, de onde me enviou uma "simpática" mensagem (para me fazer inveja, claro...) com estes "palavrões":
-“Hoje estou em Tallinn  e estou a adorar"…
Como reagi? - leiam a croniqueta  sobre a "emoção de ter inveja":


terça-feira, 1 de outubro de 2024

Placebo para a nostalgia



Houve uma conversa de ocasião sobre velhice com um prestador de serviços, 
gentil e assertivo como sempre.
Sobre a minha vetusta idade e o futuro 
- esse desconhecido com maus presságios, medos e inseguranças de quem se “preocupa” com o amanhã sonhando outonos… como se fossem de primavera – 
o parceiro da tarde foi redondo no truísmo, ao estilo de La Palisse:
-Você está velho – nota-se no que escreve, sempre o passado, o passado… e as pessoas estão-se marimbando para o passado (…).

Respondi de supetão, sorrindo:
- Sim, estou (quase) velho, assumo, o que me alegra, apesar de algumas aflições, próprias do grau e qualidade de qualquer ancião.
Se a memória não me falha, citei Gabriel Garcia Márquez, que escreveu sobre o avanço da idade no homem maduro:
- "...as primeiras mudanças são tão lentas que mal se notam, e continuamos a ver-nos de dentro como sempre tínhamos sido, mas os outros vêem-nos por fora...".
Pois, é isso – o (meu) “espelho é traiçoeiro”!
*
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o envelhecimento é classificado em quatro estágios:
 
-Meia-idade: 45 a 59 anos
-Idoso(a): 60 a 74 anos
-Ancião: 75 a 90 anos
-Velhice extrema a partir dos 90 anos
 
Portanto, faço parte do grupo de anciãos com direito a alguns privilégios, de acordo com PRINCÍPIOS DAS NAÇÕES UNIDAS PARA AS PESSOAS IDOSAS:
(…) 8 - Os idosos devem ser tratados de forma justa, independentemente da sua idade, género, origem racial ou étnica, deficiência ou outra condição, e ser valorizados independentemente da sua contribuição económica. (https://gddc.ministeriopublico.pt/sites/default/files/princ-pessoasidosas.pdf)
- É pedir muito?
*
“-Você está velho – nota-se no que escreve, sempre o passado, o passado(…).
De facto, quando alinhavo venturas e desventuras de “ontem”, as estórias de trazer por casa são um placebo para a nostalgia, que é um sentimento sublime – será?
… Estou mesmo a ficar velhote.