Certo dia entrei num barco grande, enorme, que cheirava a novo, não
por ter saído da fábrica nas vésperas, mas pelas tintas usadas para esconder as
rugas da idade. Nesse tempo, outros barcos grandes, enormes, eram velozes a
cruzar a linha do Equador; este, que me calhou em sorte, não, molengão que só visto, com
o pormenor do cheiro a tinta provocar náuseas e vómitos aos passageiros, eu
incluído - eu, criança, sem hábitos de viajante, exceto as idas às vilas das
redondezas em dia de feira, e por uma vez à Romaria de Nossa Senhora d'Agonia, em
Viana do Castelo, a Almada para visitar parte da família e o mar, grande, enorme, inimaginável, e a Coimbra, grande, enorme, cidade que me foi destinada para
cumprir os desígnios da família: um dia, talvez um dia, seria doutor ….
O Portugal que me foi dado
conhecer na escola - lia nos livros - alongava-se para lá dos oceanos.
Longe, muito longe daqui, da minha aldeia, havia mais
Portugal - “outro Portugal” - com outras gentes, falas e costumes.
Eu, a “caminhar para doutor”, com
“muito bom” nos exercícios da nossa História, acreditava nesse Portugal - ”tratava por tu” Vasco da Gama, Cabral, Diogo
Cão e tantos outros almirantes dos setes mares.
A família decidiu, estava
decidido: o futuro passaria por Moçambique, onde o avô Pereira procurava
fortuna.
O “Quanza”, pintado de fresco,
levou uma eternidade, mas chegou, ronceiro, à Baia do Espírito Santo e ao cais
Gorjão.
Finalmente, Lourenço Marques!
Finalmente, Lourenço Marques!
"AQUI É PORTUGAL"! - gravado na calçada... arrepios no corpo, dentro e fora dele, emoções que não se explicam - nem agora nem antes.
Foto: The Delagoa Bay World
Emoções que nos ficam gravadas na alma e por isso esses arrepios...
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