- José Mattoso
conferência do autor na inauguração da sede da Junta de Freguesia de Coja em
21/11/1993
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sábado, 11 de julho de 2020
Palavras sábias
quarta-feira, 1 de julho de 2020
RiTuAL Bar - In memoriam
A minha cidade tem muitas noites sossegadas – demasiado sossegadas - como hoje, recolhe-se cedo, mas aqui, no meu "universo", de teto negro e paredes claras, onde repousam quadros do Wil de Wildt, Frenk Steffens e Rui Monteiro, iluminados por luz branca e direta, o som que me chega aos ouvidos vem do dedilhar das cordas das violas.
São dois os artistas, dois os instrumentos: uma Fender e uma Ovation que se completam como amantes apaixonados. À suavidade das cordas de nylon sobrepõe-se o timbre do aço no solo de peças musicais, tão clássicas quanto a minha mente consegue catalogar no tempo: "Guitar Tango", "Apache", "The Savage"... e mais e mais!!!
Os " Shadows" foram e são o meu grupo musical de eleição, e deles guardo "quase tudo", desde os primórdios dos seus verdes anos à década de oitenta - outra época de ouro nos arranjos de "Themes & Dreams", por exemplo.
Só o Hank Marvin poderia fazer, agora, com que me sentisse jovial no sossego do meu mundo e num tempo "quase perfeito"!
...O Sérgio e o "Zé" Augusto, às vezes, têm destas memórias, entre dois whisky's.
-
CR
-"Correio da Beira Serra" - 8
de julho de 2007
quinta-feira, 28 de maio de 2020
Inhambane - um dia "volto"
Era fevereiro.
De 1966 a 1969 (três anos e sete meses), as terras de Boane, Maxixe, Inhambane e Vila Cabral (Niassa) estão anotadas na minha caderneta militar como “residências oficiais”.
Por ser tempo de guerra, “guerreei”…
…Guerreei com as “armas” que tinha à mão em nome da paz e da fraternidade: a palavra, a caneta, o lápis, o papel e a máquina de escrever.
Ocupei-me do sonho e dele fui mensageiro através de “jornais da caserna”, manufaturados sem grande critério, das publicações periódicas impressas, das sessões de cinema de puro entretenimento, das reportagens sobre a vida nos aquartelamentos, da divulgação de usos e costumes das populações...
Recordo no “outro lado do tempo” Homoine, Mabote, Morrumbene, Massinga, Pomene… Inhambane, onde “voltarei um dia”. “Está prometido” no Último adeus a Inhambane.
À distância de meio século “sou capaz de viajar” nos barquinhos que faziam a travessia entre Maxixe e Inhambane - com sorte, posso ter por companhia uma das três irmãs, mulatas - qual delas a mais bonita. Afiançavam os “tropas”!
…Depois de sessão de cinema, em Inhambane, talvez encontre aquela jovem indiana de longos cabelos pretos, olhares marotos e de falas mansas num dialeto impercebível.
Por vezes os gestos substituem as palavras:
-“Não sei ler nem escrever, só soletrar. Dá-me a primeira letra que eu dou-te a seguinte.”
Sendo domingo, um mergulho na praia do Tofo, talvez um fim de tarde na esplanada da avenida… mas se fosse “dia de bola”, e o Ferroviário jogasse em casa, era um dever aplaudir os “nossos”.
E havia o arraial com música tradicional, à luz de um “petromax”, longe das vistas, onde se saboreava a autêntica “galinha à cafreal”, sem o uso de talheres, acompanhada de cerveja à temperatura ambiente…
E aquela vez, quando dei de caras com o “paraíso” em Pomene?
E os camarões gigantes, vivos e a saltar, a vinte e cinco tostões o quilo?
E o casamento do Fonseca em Morrumbene?
… Um dia conto pormenores de uma cena “nunca vista”: o alferes “checa”, por "brincadeira", desafiou o Zé Diogo, praticante de boxe, para uma “troca” de socos na parada!...
sexta-feira, 15 de maio de 2020
Isto é uma "gaita", pessoal...
Acordo fora de horas com uma “coisa má aos saltos dentro da cabeça”.
E se essa “coisa” se atravessa no meu caminho, e eu sem forças nem tempo para lhe dar um piparote? Se eu tivesse vinte anos, a essa “coisa má” chamava-lhe “um figo” (como ao tempo da minha guerra em Moçambique, ou ao tempo da descolonização, ao regresso a uma terra quase desconhecida... foram tantas “coisas más” - mas, nesse tempo, tinha tempo, agora deixei de o ter. Com vinte ou trinta anos em cima das costas, (quase) todas as “coisas más” se ultrapassam com a certeza de que ainda temos tempo para sorrir e andar por aí sem medo dos lobisomens ou dos bruxedos nas encruzilhadas, dos maus olhados - tudo “ coisas más”. Agora falta-me o tempo, a mim e a todos os setentinhas.
“Vai ficar tudo bem” - leio e ouço e apetece dizer um palavrão. Vai ficar tudo bem, sim, mas para quem tem tempo - para a “malta’ da minha geração, não, já não temos tempo para essas mentirinhas de trazer por casa.
“Isto” é uma gaita, pessoal...
E se essa “coisa” se atravessa no meu caminho, e eu sem forças nem tempo para lhe dar um piparote? Se eu tivesse vinte anos, a essa “coisa má” chamava-lhe “um figo” (como ao tempo da minha guerra em Moçambique, ou ao tempo da descolonização, ao regresso a uma terra quase desconhecida... foram tantas “coisas más” - mas, nesse tempo, tinha tempo, agora deixei de o ter. Com vinte ou trinta anos em cima das costas, (quase) todas as “coisas más” se ultrapassam com a certeza de que ainda temos tempo para sorrir e andar por aí sem medo dos lobisomens ou dos bruxedos nas encruzilhadas, dos maus olhados - tudo “ coisas más”. Agora falta-me o tempo, a mim e a todos os setentinhas.
“Vai ficar tudo bem” - leio e ouço e apetece dizer um palavrão. Vai ficar tudo bem, sim, mas para quem tem tempo - para a “malta’ da minha geração, não, já não temos tempo para essas mentirinhas de trazer por casa.
“Isto” é uma gaita, pessoal...
Ups... seis da manhã e eu a escrever “coisas”. Sobre coisas más, claro ...
quinta-feira, 14 de maio de 2020
Sem corantes nem conservantes
Quem tem a sorte de ter um quintal nas traseiras da casa, com engenho e horas de trabalho pode retirar da terra alguns produtos hortícolas cultivados sem "corantes nem conservantes". Foi o que fiz esta manhá, très meses depois da sementeira de batatas - coisa pouca, a enxada nunca foi o meu forte.
Garanto que a colheita, não sendo nada por aí além, pagou o trabalho e ainda sobraram uns "trocos"...
sexta-feira, 10 de abril de 2020
Posso ajudar?
Foi em Lourenço Marques
A
Livraria Académica fica “logo ali”, ao virar a esquina do Prédio Rubi, no
prédio em frente.
Perdi
o conto às visitas que fiz ao estabelecimento, na esperança de ser atendido
pela jovem Mariana dos cabelos compridos…
A
estratégia era simples: ”estava sempre necessitado” (?) de coisas simples, como
lápis, borrachas, papel cavalinho, aguarelas. Quando “esgotava” os artigos da
minha imaginação continuava cliente,
usando outra alternativa: entrava na loja e dirigia-me às estantes
onde repousavam obras de autores portugueses.
Habituada
à minha presença solitária. ela aproximava-se com meio sorriso condescendente,
como quem diz de si para si:
-“A mim não
me enganas tu”!...
Mais
perto, atenciosa e gentil, sempre sorridente, olhos nos olhos, perguntava:
-
Posso ajudar?
Poder,
podia, mas...
Eu respondia com um sorriso inteiro acompanhado de palavras de ocasião,
titubeantes.
Ela, sempre gentil.
Às
vezes comprava uma das obras expostas – “Fanga”,
de Alves Redol, foi o primeiro de muitos.
Se a
Mariana falasse do tempo que fazia lá fora, ou do single musical em voga,
talvez lhe dissesse que havia "outros gostos",
que nada tinham a ver com livros, lápis, borrachas, papel cavalinho,
aguarelas…
..........
-
Posso ajudar?
Sem asas para voar para outras conversas... talvez um lápis da "Viarco", um tubo de "tinta da China", uma folha de cartolina - na Livraria Académica "havia de tudo"!
domingo, 5 de abril de 2020
Imani Nsambe e eu
Bolo rei, passas e “champanhe”, abraços e beijinhos, sorrisos e votos de bom ano. Na casa do meu amigo Armando a mesa estava posta - perto da lareira é que se estava bem...
- Vai à nossa e das nossas famílias, chim, chim – tocam-se os copos com a “Raposeira” a borbulhar.
Tinha a esperança de “dois dedos de conversa” - impossível, o telefone não permitia tais mimos, há sempre retardatários, amigos e familiares: bom ano, bom ano, com saúde, digo eu, que é o que mais desejo (…a ver se me faço anunciar em dezembro, daqui a um ano).
Já tarde, em sossego, aproximei-me de Imani Nsambe e aí fiquei, " mãos nas mãos".
Estou a meio da leitura do romance histórico escrito pelo meu amigo Mia Couto, “O Bebedor de Horizontes”. Foi ele, o autor, que me apresentou Imani Nsambe, a narradora dos (…) trágicos acontecimentos do final do reinado de Gaza (…).
Mia Couto “enfeitiça” o leitor com as palavras que escolhe para contar estórias e realça a história do seu (e meu!) povo com a autenticidade dos pormenores recolhidos em múltiplas fontes. A trilogia “As Areias do Imperador”, que termina com “O Bebedor de Horizontes”, é o melhor testemunho do que me vai no pensamento sobre as lendas que escutei aqui e ali, em terras de Inhambane, mais tarde em Gaza, sobre Gungunhana, o rei.
Possivelmente Imani Nsambe é figura de conveniência no romance - que importa? Hoje foi o mote para esta croniqueta de “trazer por casa” depois de um festim com espumante, “sonhos”, “fatias douradas”, “arroz doce” e, a abrir, camarões de Moçambique, possivelmente pescados nas águas de Morrumbene, a norte de Inhambane.
Bayete, Imani Nsambe!
(Ritualmente escrito e publicado no dia 1 de janeiro de 2018)
quarta-feira, 1 de abril de 2020
"O outro lado do tempo"
… Se calhar, “sou de lá”
Num dia como este, com um cravo vermelho na lapela das minhas memórias, em silêncio, regresso ao “outro lado do tempo” - viagem apressada até aos dias do agora: eu, “setentinha”, que o cabelo grisalho acentua sem convencer a “ideia que trago no pensamento”:- Eu, quarentão… ou um pouco mais…
Pauso no (meu) tempo “trintão” e “regresso” a João Belo, no Xai Xai, e reencontro-me com a terra e as pessoas, odores, sabores, hábitos e costumes.
Volto mais atrás, ao tempo que me viu crescer, de menino a adulto.
- A primeira paixoneta, ainda “visível” na lembrança, na Malhangalene, em Lourenço Marques, a paixão pela prática do futebol no Benfica de “lá”, o colégio, a Casa Vilaça (espécie de universidade onde cultivei conhecimentos sobre a estética do belo…), a Juventude Operária Católica (JOC) e o teatro, o ingresso na Aeronáutica Civil, ser fã indelével da Natércia Barreto e dos seus “Óculos de Sol”, dos grupos “Night Stars”, de L.Marques, “Shadows”, “Beatles” e de tantos outros artistas do top internacional, como Gilbert Bécaud, as matinés no Scala; o serviço militar, de Boane à Maxixe, Inhambane e Vila Cabral, no Niassa, através da prática de experiências jornalísticas nos “Jornais da caserna” “Gazela”, “Kuambone” e a “Voz do 20”, à Ação Psicossocial, como elemento da especialidade IOR (Informações, Operações e Reconhecimento); a colaboração no “Notícias”, de L. Marques, depois no "Diário", a chefia de uma secção administrativa na Fábrica Siesta, em L. Maques, ao Ford Escort 1300 GT, o meu primeiro automóvel...
Num dia como este, com um cravo vermelho na lapela das minhas memórias, em silêncio, “regresso” no tempo a João Belo, onde constitui família, à “Casa Fonseca”, aos torneios de futebol de salão, às praias do Xai Xai, ao Bilene…
O 25 de Abril de 1974 veio ter comigo quando a família crescia: a Carla e o Carlo eram todo o nosso enlevo.
Embora não tivesse nascido em Moçambique, acreditava que “era dali” – aquele país era a minha Pátria!
Num dia como este, com um cravo vermelho na lapela das minhas memórias, em silêncio, recuo ainda mais no tempo, a Portugal - ao tempo da escola primária, no Barril de Alva, do liceu D. João III, em Coimbra, ao Externato Alves Mendes, em Arganil, e ao… Urtigal da minha meninice…
… Se calhar, “sou de lá”, do Urtigal - é o que me diz o tempo.
sexta-feira, 27 de março de 2020
A "guerra" que não fazia parte dos nossos medos
A
Segunda Guerra Mundial terminou no ano em que nasci – eu e o José António, meu
irmão gémeo.
Do
“Zé Tó” não guardo qualquer memória: com nove meses de vida, um tipo de “febre” assassina
fez de mim filho único. Para sempre.
Dos
tempos da “Guerra Fria” até aos dias de hoje, tantos foram os receios de uma terceira
catástrofe mundial - coisa nunca vista pelo uso das armas nucleares!
- Silenciosa
e traiçoeira, a pandemia de Covid-19 não
fazia parte dos nossos medos - Hiroshima e Nagasaki, sim!
quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020
O Dúlio e eu
Arganil
é terra de saudade pelas memórias do extinto Externato Alves Mendes, que
frequentei durante algum tempo.
Alguns
dos meus antigos condiscípulos permanecem vivos nas lembranças, principalmente aqueles/as
com quem partilhei “qualquer coisa” de importante… quando se tem a idade
“primaveril” de doze anos: uma paixoneta pela colega mais bonita da turma (natural
de Coja), admiração por outra que tinha na “ponta da língua” acertadas respostas
para (quase) todas as perguntas dos professores, alguns professores, o “pessoal” da bola…
Fintas,
chutos e golos de levantar o “público dos estádios” do Argus e do União..
Que
tempos aqueles!
Certa
vez, como mostra a fotografia, os minorcas do primeiro ano alinharam com oito garbosos e "talentosos atletas", e a equipa do quarto ano com seis matulões “pés
de chumbo”… convencidos de que, por serem “grandes”, tinham a vitória “no papo”
- e “deram dois (jogadores) de avanço”!
…
Do árbitro e seus ajudantes não há memória. Sobre o resultado da jogatina também
não…
O
Dúlio Pimenta é um rapaz do meu tempo – desse tempo do Colégio Alves Mendes. É
dos poucos com quem mantenho ligação afetiva por questões profissionais e políticas.
Um dia destes, depois de uma temporada sem conversas, caímos literalmente num
abraço… na caixa de um supermercado. Um espetáculo “nunca visto”!
-
Como a “Quinta do Urtigal”, no Barril de Alva, aos domingos serve um “cozido à portuguesa”
de “comer e chorar por mais”… temos de pôr a conversa em dia, amigo Dúlio.
-
*As "equipas". Na primeira fila, da esquerda para a direita: Mateus, José Almas, Rui Álvaro, Constantino Ferreira, Adelino Pratas, Carlos Ramos, Zé Morgado, e Jorge Dias. Na segunda fila: Luís Filipe, Carlos Jorge, Mário, Euclides, Cesar e Alfredo (Ilustração da crónica "Fernando Vale e a bola", escrita pelo Constantino Ferreira e publicada na "Comarca de Arganil")
sábado, 18 de janeiro de 2020
“Correr mais e jogar mais…”
O jogo do Benfica com o Rio Ave confirmou o que há “muito
suspeitava”: já “ninguém” respeita os “grandes”, quando são mesmo “grandes”, a
começar pelo tamanho dos estádios….
Na passada terça feira, ao quentinho da lareira, a RTP permitiu que eu, um cão e dois
gatos “assistíssemos” à vitoria do
“glorioso”, mas…
Como se sabe, o SLB sofreu para levar de vencida o ”miúdo” Rio Ave, “atrevido e arrogante” a ponto de
marcar um golaço a abrir a contenda que, a meu ver, lá está, tinha
tudo para “esclarecer” o meu filhote
Hugo, que certa vez, num jogo no estádio do Estrela
da Amadora, questionou o mano Carlo:
- “Isto” muda aos quantos? Era o Hugo no recreio da escola,
só podia…
Empertigado, o Rio Ave, deixou-me ligeiramente inquieto com a
sua “falta de respeito” – uma “desfaçatez inadmissível”!
Apesar da vitória, dormi mal, acordei com a sensação de que alguma
coisa não estava bem “cá dentro”: a
tensão arterial com valores acima da
média tarde fora, e à noitinha upa, upa –
a coisa agravou-se!
“Medricas”, peço ajuda à “Saúde 24” que me encaminha “… JÁ!”
para as urgências do Centro de Saúde mais próximo. Foi o que fiz… em boa hora:
um comprimido que deixei derreter debaixo da língua, a conselho do médico de
serviço, deixou-me “como novo”!
Ainda “medricas”, a noite passada tomei a “corajosa decisão” de não acompanhar ao
vivo, pela TV ou pelo relato, as incidências do jogo o Sporting / Benfica - fiquei-me pela “Nazaré”, a novela que é isso mesmo, uma novela, agora meio trapalhona; como
estórias de novelas não são a
minha “praia”, se calhar são todas
assim, trapalhonas…
- O Benfica foi ganhar a Alvalade; o Porto perdeu em casa com
o Braga. Uauuuu!
Pelas explicações do treinador do Benfica, Bruno Lage, eles
“…têm de correr mais e jogar mais para nos vencer…"!
Era isto que eu queria ouvir do “mister” para ter o sono
tranquilo. Amém!
P.S. - Esta manhã, a minha tensão arterial continuava nos
valores habituais!
terça-feira, 7 de janeiro de 2020
Três gatos e um cão
O adeus a 2019 teve muito pouco do relato abaixo publicado no tempo próprio. Desta vez, três gatos e um cão foram a companhia "escolhida" para o réveillon...
Quando o sino da torre da igreja do meu sitio anunciou a meia-noite e meia dúzia de foguetes poluíram o silêncio, é que dei conta do falecimento do ano velho.
Trau... trau, trau... pum! É esta a fala dos foguetes, dos baratinhos, sem “lágrimas coloridas”!
Bolo rei, passas e “champanhe”, abraços e beijinhos, sorrisos e votos de bom ano. Na casa do meu amigo Armando a mesa estava posta - perto da lareira é que se estava bem...
- Vai à nossa e das nossas famílias, chim... chim – tocam-se os copos com a “Raposeira” a borbulhar.
De regresso a casa “aconcheguei-me nos braços da Imani Nsambe ”, (…) uma jovem negra que estudou numa missão católica (…), na esperança de “dois dedos de conversa” - impossível, o telefone não permitia tais mimos, há sempre retardatários, amigos e familiares: bom ano, bom ano, com saúde, digo eu, que é o que mais desejo - a ver se me faço anunciar em dezembro, daqui a um ano…
Já tarde, em sossego, aproximei-me novamente da Imani Nsambe e aí fiquei, as "minhas mãos nas mãos de Imani Nsambe".
Estou a meio da leitura do romance histórico escrito pelo meu amigo Mia Couto, “O Bebedor de Horizontes”. Foi ele, o autor, que me apresentou Imani Nsambe, a narradora dos (…) trágicos acontecimentos do final do reinado de Gaza (…).
Mia Couto “enfeitiça” o leitor com as palavras que escolhe para contar estórias e realça a história do seu (e meu!) povo com a autenticidade dos pormenores recolhidos em múltiplas fontes. A trilogia “As Areias do Imperador”, que termina com “O Bebedor de Horizontes”, é o melhor testemunho do que me vai no pensamento sobre as lendas que escutei aqui e ali, em terras de Inhambane, mais tarde em Gaza, sobre Gungunhana, o rei.
Possivelmente Imani Nsambe é figura de conveniência no romance - que importa? Hoje foi o mote para esta croniqueta de “trazer por casa” depois de um festim com espumante, “sonhos”, “fatias douradas”, “arroz doce” e, a abrir, camarões de Moçambique, possivelmente pescados nas águas de Morrumbene, a norte de Inhambane.
Bayete, Imani Nsambe!
- Vale a pena ler "AS MULHERES DO GUNGUNHANA"
*
(Publicado em 2018 com o título "Imani Nsambe e eu")
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