O sol que entra filtrado pela janela da sala com quarenta e dois metros quadrados de espaço útil é insuficiente para me aquecer, sentado no sofá com anos de uso mas com os pés assentes no granito do chão da lareira; quando chega o frio gelado da Estrela, ela, a lareira, renasce das cinzas depois do milagre da chama de um fósforo em comunhão com uma acendalha.
Como sempre, em horas do mesmo estilo e feitio, pela manhã, ouço rádio - não uma estação qualquer, as minhas preferências vão por inteiro para a Smooth FM, que reservo em tudo quanto é aparelho de companhia nos silêncios das ausências físicas de filhos e netos. Se me apetece, coloco um LP de vinil no gira discos e transporto o pensamento para tempos de glória, quando se é estupidamente jovem de sonhos a superlotar uma "valise de carton", que é o local próprio para guardar os sonhos em qualquer idade - eu que o diga: amante do "tango", por ser tosco no ritmo, fiquei-me pelo "baile mandado"...
Levanto-me do sofá, curvo-me para chegar à prateleira mais baixa da estante e com a mão direita retiro à sorte, não um LP, mas o "Single" "O Tango dos Barbudos"! Coincidência...
- Agora vou rodopiar na cadência da dança - sempre movimento as pernas abraçado à nostalgia de uma "matinée" nos "Velhos Colonos", de preferência ao som dos "Night Stars" , "Renato Silva", "Corsários", ou dos "I Cinque di Roma" numa "soirée" do Hotel Polana...