É domingo e ainda não alterei a hora - continuo nas 10 e 40.
Pela minha hora, 10 e 40, traço planos para o almoço - carne ou peixe, mas como me esqueci de descongelar qualquer coisa para grelhar, o melhor é olhar as reservas enlatadas.
...A Smooth FM faz-me companhia, como em todas as manhãs, muito antes das 10 e 40.
A Ivânia acaba de telefonar.
- Olá senhora/menina engenheira - brinco - bom dia! Estás bem, filhota? E o João? ( O João é o marido da Ivânia, que entrou para a família pela porta grande - não há ninguém que não goste dele, incluindo a mãe Natália; as patilhas do João é que não eram muito do seu agrado...).
Por minutos, continuou o diálogo; falei do tempo frio desta manhã - se calhar vou acender a lareira, disse eu. A minha filha concordou:
- Aqui (nas Caldas da Rainha) também está frio, o tempo está cinzento..
- Olha pai, estou a ligar para dizer que a avó Irene morreu esta noite!
A avó Irene, minha sogra, foi uma senhora de coração enorme - maior do que o país que abraçámos como nosso: Moçambique. Foi aí, em Moçambique, na noite passada, que a dona Irene Fonseca fechou os olhos para sempre. Tinha oitenta e mais uns anos...
Agora, que passa das 11 ( pelo meu relógio...), enquanto escrevo saltam vivas as memórias de um tempo em que a dona Irene era a matriarca da família, sempre apaziguadora de pequenas divergências.
Senhora com mãos de oiro na arte de costurar lindos vestidos de noiva ou um enxoval inteiro para a criança que ia a batizar - tivesse ela a cor que tivesse! - estou em crer que vai ter muitos afilhados no funeral...
A minha sogra, dona Irene, juntou-se à minha mãe Natália no Oriente eterno.
Ai... as recordações que tenho de ambas!...
Vou acrescentar mais uma hora aos ponteiros dos relógios.
Vou acrescentar mais uma hora aos ponteiros dos relógios.