sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Eu, "branco de segunda” e “explorador de pretos”


Vai a televisão pública emitir uma série de programas sobre os portugueses que, depois da descolonização, regressaram da África portuguesa – como se não existissem, no tempo presente, melhores e actuais assuntos do interesse público …
Esse tempo, dos “retornados”, miseravelmente corridos a “toque de caixa” das terras que eram, para todos os efeitos, pátrias de adopção de muitos de nós, não pesam nas memórias da actual geração de portugueses, nada lhes diz, mas para quem sofreu as consequências de uma descolonização disparatada, é uma matéria sensível que ninguém deseja recordar.
Sem culpas no cartório, na matriz da minha consciência, durante vinte anos, plagiando Venicius de Moraes, fui “o branco mais preto de Moçambique”, “estatuto” que não me garantiu epítetos de lisonja, bem pelo contrário: em 1975, como se tivesse infestado de lepra, apelidaram-me de “branco de segunda” e “explorador de pretos”…
O destempero das palavras, ao invés  da malquerença, fez de mim um homem novo, fisicamente adaptado, emocionalmente não, NUNCA!

3 comentários:

  1. Foi difícil para todos nesse período conturbado das nossas vidas... nós os mestiços, fomos olhados com desprezo por esses ditos brancos de 1ª e igualmente renegados por uma grande percentagem de negros que na altura se consideravam igualmente de 1ª...Hoje, principalmente em Africa,talvez lamentem essa precipitação de juízo mas um pouco tarde para todos nós.. a saudade corroi mas sobrevivemos e continuaremos em frente!

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  2. Um texto assim, escrito com alma e saber, só podia vir de ti, que viveste, tal como eu, aquela vida de todos nós.
    Fica-te com o meu abraço sempre forte e amigo
    Luis Zuzarte

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  3. Palavras assim, escritas com alma e sentido, só podiam vir de ti que, tal como eu e outros mais, por lá vivemos e por lá partilhamos, e deixámos até, as nossas vidas.

    Fica-te com o meu abraço sempre amigo e sempre forte
    Luis Zuzarte

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