Vai a televisão pública emitir
uma série de programas sobre os portugueses que, depois da descolonização,
regressaram da África portuguesa – como se não existissem, no tempo presente,
melhores e actuais assuntos do interesse público …
Esse tempo, dos “retornados”,
miseravelmente corridos a “toque de caixa” das terras que eram, para todos os
efeitos, pátrias de adopção de muitos de nós, não pesam nas memórias da actual
geração de portugueses, nada lhes diz, mas para quem sofreu as consequências de
uma descolonização disparatada, é uma matéria sensível que ninguém deseja
recordar.
Sem culpas no cartório, na matriz da
minha consciência, durante vinte anos, plagiando Venicius de Moraes, fui “o branco mais preto de Moçambique”, “estatuto”
que não me garantiu epítetos de lisonja, bem pelo contrário: em 1975, como se tivesse
infestado de lepra, apelidaram-me de “branco de segunda” e “explorador de pretos”…
O destempero das palavras, ao
invés da malquerença, fez de mim um
homem novo, fisicamente adaptado, emocionalmente não, NUNCA!