Um amigo, a propósito do repiso de algumas memórias e das estórias que construo a partir das ditas, afiançou que “sofro de uma doença sem cura” - respondi com um sorriso seguido de palavras que tinha na ponta da língua:
- Ah, mas é uma “doença boa” e tem cura…
... basta o placebo de qualquer coisa - pessoas e lugares, os Night Stars e os Corsários, o Zambi e os Velhos Colonos, os colégios Marques Agostinho e Camões, calças à boca de sino e minissaias, paisagens de céu e mar, flores e florestas, borboletas e elefantes, marimbeiros de Zavala e pescadores de Homoine, o John Orr's, a Casa Vilaça e outras “vidas” passadas, e curo a nostalgia dos tempos em que, naturalmente, sendo jovem, sonhava com a Pedra Filosofal , “…coisa muito desejada mas impossível de atingir”.
Cito de passagem, mas sem ser por acaso, a Casa Vilaça, em Lourenço Marques, pela importância da descoberta de um mundo novo, do qual faziam parte cristais Lalique, Daum, Baccarat, porcelanas Vista Alegre, Limoges, Sévre e Capodimonte, as miniaturas Dinky Toys, Matchbox … e outras marcas internacionais de renome que “tratei por tu”, mas com delicadeza no trato quando decorava os escaparates do estabelecimento ao melhor estilo do que se via na Europa, segundo os valiosos ensinamentos do “tutor” Vilaça.
…Na ausência de algumas valências físicas, para que a (minha) memória não se apague, conto estórias - é um santo remédio para curar a minha doença que, segundo um dos meus amigos, não tem cura – mas tem, como se “vê”!
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Imagens do site THE DELAGOA BY WORLD, surripiadas com a devida vénia - https://delagoabayworld.wordpress.com/2012/05/01/ver-as-montras-em-lourenco-marques-e-a-casa-vilaca-anos-1960/