quarta-feira, 27 de novembro de 2024
quinta-feira, 21 de novembro de 2024
Sinais do amanho dos campos
Em 1975 (?), ao serviço de um semanário, com sede em Lisboa, criado por um grupo de portugueses retornados à Pátria, do qual fiz parte, eu e um fotógrafo, de nome João, encetámos uma viagem ao interior do país em busca de gente como nós, retornados, com o intuito de conhecer o seu estado de alma, como sobreviviam, colocando as páginas do jornal à sua disposição - espécie de “ponto de encontro” de quem foi apartado de familiares e amigos.
Quase meio século depois, basta a lembrança deste tópico para entristecer a imaginação do regresso a um tempo que já “esqueci”…
Durante o percurso, como chefe de equipa, com a anuência do João, decidi visitar os meus: mãe e avós, entretanto regressados ao Barril de Alva e à antiga casa de família que, convenhamos, depois de mais vinte anos com alguma ocupação e pouca manutenção, necessitava de obras urgentes. O avô Pereira, mestre carpinteiro, usou as poupanças e, aos poucos, fez dela habitação condigna e confortável.
Hoje “reencontrei-me” com o momento da visita à família - a foto é um clique do João, excelente fotógrafo, mas sem capacidade de alterar o cansaço da idade do avô e os sinais do amanho dos campos da mãe Natália, mas registou a beleza do seu rosto: um jeitinho no penteado, uma roupinha mais catita, sapatinhos de salto médio, malinha na mão e um pouco de batom nos lábios e voltava a ser a Natália, funcionária do Hospital Miguel Bombarda de Lourenço Marques!
Cá por mim, é o que se vê: o rosto “vestia” à moda da época, sem qualquer aptidão revolucionária - apenas preservei o estilo dos últimos tempos de residente na capital do distrito de Gaza, João Belo.